Mesmo quando exigência é zero, fornecedores optam por contratar e comprar no Brasil, para ganhar competitividade, segundo presidente da Petrobras
Rio de Janeiro (RJ) - A indústria brasileira tem cumprido além do necessário as metas de conteúdo local previstas para os setores de óleo e gás e naval offshore. É como avalia a presidente da Petrobras, Graça Foster. "A indústria local vem performando adequadamente, mesmo quando a exigência de conteúdo local é zero, pois os EPCistas (como são conhecidas as empresas que fornecem para as operadoras) optam por comprar e contratar no Brasil porque isso traz competitividade. Ninguém faz a mais do que precisa se não houver vantagem econômica para isso", destacou, durante coletiva sobre o Plano de Negócios 2013-2017, na sede da companhia.
Graça rebateu as críticas de que os preços praticados pela indústria local são altos em relação aos ofertados no mercado internacional. "A empresa faz um trabalho minucioso de comparação entre a indústria local e outros fornecedores, analisa o que pagou em contratos anteriores e leva em conta as métricas internacionais na contratação de bens e serviços", reforçou. Segundo ela, a Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP) coloca alguns itens em audiência pública e a Petrobras participa, contribuindo para identificar fornecedores que não estariam realizando as metas.
Novas refinarias em construção
Os projetos das refinarias Premium I, no Maranhão, Premium II, no Ceará, e a fase 2 do Comperj, no Rio de Janeiro, continuam sendo considerados prioritários nos planos de investimentos da companhia. "Aprendemos em 2012 a importância das refinarias e fizemos mudanças internas para garantir essa prioridade em refino", disse Graça Foster, ao destacar que a meta para 2017 é 3,4 milhões de barris de óleo equivalente (boe), um milhão a mais que o registrado em 2012.
Segundo a executiva, o diretor de Abastecimento, José Carlos Cosenza, tem trabalhado fortemente, junto a consultorias contratadas pela companhia, para viabilizar eeconomicamente estes projetos, de modo a atender à crescente demanda por combustíveis.
Cosenza disse que os projetos têm maturidade em relação ao plano anterior e espera até julho ter expectativa de viabilidade econômica. Ele admitiu, porém, que, mesmo com a entrada em operação das novas unidades de refino, o Brasil ainda continuará apresentando déficit na produção de derivados de petróleo, o que levará à importação de 29% da demanda de combustíveis até 2020. Isso equivale a um déficit de 972 mil barris por dia - saldo entre a capacidade de processamento de petróleo da estatal, de 2,4 milhões de barris e a demanda de 3,38 milhões de barris.
Segundo o cronograma apresentado ao mercado, a primeira fase da Refinaria do Nordeste (Rnest), de 115 mil barris por dia (b/d), iniciará operação em novembro de 2014 e a segunda (115 mil b/d), em maio de 2015; a primeira fase do Comperj (de 165 mil b/d) entrará em abril de 2015 e a segunda (300 mil b/d), em janeiro de 2018; a primeira fase da refinaria Premium I (300 mil b/d) entrará em outubro de 2017, e a segunda (300 mil b/d), em outubro de 2020; enquanto a Premium II (300 mil b/d) entrará em dezembro de 2017.
A Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, também acaba de sair do Plano de Desinvestimentos da Petrobras. "Não sabemos ainda quanto será investido para colocar essa unidade de volta ao mercado", disse Graça. Ela também mantém o interesse em prosseguir nas negociações em relação à PDVSA, na Venezuela, que foram interrompidas com a morte do presidente Hugo Chavez. O prazo do último aditivo para entrar na companhia venceu em 28 de fevereiro. "A PDVSA performou bem nos últimos 15 meses e devemos concluir este processo até novembro. Esta unidade possui uma alta conversão em diesel, mas não dá para olhar para o lado nem olhar para trás", destacou Graça.
Preços dos combustíveis
A Petrobras diz que os seis reajustes nos preços dos combustíveis ocorridos em nove meses - quatro no diesel e dois na gasolina - são suficientes para equilibrar suas contas, mas não descarta novos reajustes por conta da variação do câmbio e outros fatores econômicos externos. "Estou satisfeita com o aumento de 5% nos preços dos combustíveis, feito em 6 de março, e não faz sentido voltar a falar de aumento", disse ela, sem revelar a fórmula para a equação de preços para 2013/2017.
Segundo Graça, a depreciação ou apreciação do dólar é uma variável externa, que pode ser melhor ou pior para a Petrobras. "Isso pode mexer no resultado da companhia no mês, no trimestre, no ano", ressaltou. No entanto, a empresa tem previsões para o preço do brent, que deve variar de US$ 110, vindo para US$ 100 e chegando a US$ 85. Por outro lado, a estabilidade econômica no Brasil, como um mercado crescente de investimentos, tranquiliza as previsões da companhia.
"Os grandes eventos esportivos trarão mais dólares para o Brasil, sem contar os investimentos já previstos. Tudo indica que deve haver uma apreciação do real, que pode ser favorável para a Petrobras", analisou. Ainda segundo ela, 76% das dívidas da companhia são contratadas em dólar. "Se o preço do petróleo ficar em 85 dólares o barril, bate no preço internacional e a situação se modifica", acrescentou.