A perfuração de poços de petróleo nas águas profundas do Golfo do México pode ter atraído a atenção pública desde o desastre da plataforma petrolífera Macondo. Mas, para os integrantes desse setor, que consideram a explosão de uma plataforma desse tipo um fato extremamente raro, os campos de águas profundas do Brasil se constituem em um projeto de longo prazo bem mais convincente.
As reservas de petróleo marítimas do Brasil, que durante anos estiveram inacessíveis debaixo de uma camada de sal de dois quilômetros sob o fundo do mar, são estimadas em 50 bilhões de barris.
A Petrobras, a companhia petrolífera estatal brasileira, é a principal beneficiária, devido a legislações nacionalistas segundo as quais a empresa precisa ter uma participação de no mínimo 30% em qualquer projeto, bem como atuar como operadora na área abrangida por estas reservas recém-descobertas.
Nos próximos cinco anos a companhia pretende investir US$ 224,7 bilhões na exploração desta área tecnicamente difícil. E embora ela conte com um capital e uma capacidade técnica que poucas outras companhias estatais de petróleo possuem, existe o temor de que a Petrobras esteja se arriscando demais.
“A Petrobras enfrentará problemas de ordem gerencial e econômica”, diz José Valera, sócio da firma de advocacia especializada em energia Mayer Brown. “A nova estrutura para o pré-sal tem o potencial para criar um gargalo na exploração. Esse é o obstáculo mais importante”.
A perfuração em águas profundas se constitui na forma mais tecnicamente difícil e cara de extrair petróleo. “Essencialmente, isso consiste em atuar em um local onde nenhuma outra companhia de exploração fez perfurações anteriormente”, diz Valera. “Em águas profundas, isso se constitui em um verdadeiro esforço para a exploração de petróleo. E agora nós estamos descobrindo esses recursos tremendos. Os campos do pré-sal são de fato uma nova fronteira”.
As companhias petrolíferas internacionais – juntamente com a Petrobras – são a fonte da maior parte dos recursos de engenharia e de outros talentos exigidos por tais projetos.
Mas é difícil para estrangeiros conseguir as permissões de trabalho exigidas, e a legislação brasileira requer que sejam pagos benefícios enormes a todos os funcionários, além dos seus salários, segundo Nick Stocker, diretor regional para a América Latina da NES Global Talent, uma empresa de recrutamento de profissionais do setor de energia.
Segundo Stocker, no passado o sistema educacional do país não estava dirigido para ciências e matemática, o que significa que o Brasil possui um número menor de engenheiros do que outros países voltados para o setor petrolífero.
O Brasil forma cerca de 40 mil engenheiros por ano, enquanto que a Coreia do Sul forma 80 mil, a Índia 250 mil e a China 400 mil.
“Existem no Brasil alguns engenheiros e profissionais de nível técnico – mas a quantidade não é suficiente”, explica Stocker. “Tal experiência não pode ser obtida da noite para o dia”.
De acordo com Stocker, há quem acredite que, para que o Brasil sustente o crescimento que está planejando para o seu setor petrolífero, será necessário que haja financiamento e recursos técnicos contínuos das companhias internacionais de petróleo.
Mas, para conseguir isso, o Brasil terá que reduzir algumas das suas restrições.
Ele diz que a obtenção de um visto de trabalho pode demorar de 30 a 40 dias. E depois, as companhias precisam pagar uma grande quantidade de impostos e contribuições sociais, que cobrem de tudo, desde o pagamento de férias até licenças de maternidade e paternidade, que representam um gasto extra equivalente a pelo menos 69% dos salários.
“Os clientes precisam planejar de forma cuidadosa e antecipada, levando em conta o cronograma e as implicações relativas a gastos ao trazerem especialistas estrangeiros para o Brasil”, diz Stocker.
As outras reservas importantes de águas profundas são o Golfo do México, bem como as costas leste e oeste da África, o Mar do Norte e a Austrália. Todas elas estão competindo por talentos e dólares.
Como a maior parte das reservas de petróleo convencionais, situadas em terra ou próximas ao litoral, é controlada por companhias petrolíferas estatais, em países como a Arábia Saudita, o México e a Venezuela, existe pouca perspectiva de criação de valor em grande escala e de longo prazo nessas áreas para as companhias internacionais de petróleo, de acordo com a empresa de consultoria Wood Mackenzie, e é por isso que elas estão procurando cada vez mais atuar na exploração das reservas de alto-mar.
“O perfil operacional da maioria das companhias internacionais mudou substancialmente nos últimos dez anos, tendo havido um deslocamento contínuo para esses projetos tecnicamente mais difíceis”, declarou a Wood Mackenzie em um relatório de julho sobre o setor petrolífero.
As reservas petrolíferas de águas profundas, de gás natural liquefeito, e de petróleo e gás não convencionais perfazem atualmente quase 50% do valor futuro dos principais projetos internacionais, afirma Wood Mackenzie.
A velocidade com que essas áreas individuais serão exploradas depende da rapidez com que materializar-se-á o acesso, os talentos e os investimentos em dólares.
A tecnologia tornou possíveis coisas que dez anos atrás eram simplesmente inimagináveis. Em 2004, por exemplo, a perfuração em um poço marítima situado em uma área marítima de 2.700 metros de profundidade foi um recorde, diz Valera. Mas agora companhias de petróleo conseguem fazer perfurações em áreas de 4.300 metros de profundidade.
“A perfuração em águas ultra profundas é muito cara e tecnicamente difícil. Esse é um setor que as companhias internacionais de petróleo veem como uma oportunidade de ressurgência. Nesse setor elas não enfrentarão a competição intensa das companhias estatais, conforme ocorre na exploração de reservas petrolíferas convencionais”, explica Valera.
Mas só o futuro dirá se o Brasil vai aproveitar suficientemente o conhecimento das companhias internacionais de petróleo nessa área.
Fonte:
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