domingo, julho 08, 2012

Petróleo dá reviravolta até 2020, diz analista

Produção sofre aumento sem precedentes e vai ultrapassar em muito a demanda; Oriente Médio perderá influência
Rio de Janeiro (RJ) - A produção de petróleo no mundo está sofrendo um aumento sem precedentes, o que pode levar a uma crise de superprodução antes do fim da década. A conclusão é de um estudo da Universidade Harvard, nos EUA, que põe o Brasil entre os seis maiores produtores de óleo em 2020.

A análise foi feita pelo italiano Leonardo Maugeri, ex-diretor da gigante petroleira Eni. Pesquisador-visitante do Centro Belfer para Relações Internacionais, ele é considerado um dos principais analistas do setor no mundo.

Somando dados de produção dos maiores campos de petróleo do globo, Maugeri estimou que o suprimento do combustível saltará de 93 milhões de barris/dia em 2011 para 110,6 milhões em 2020, provavelmente superando em muito a demanda. Hoje o mundo já tem cerca de 5 milhões de barris/dia em "capacidade ociosa". Se a demanda continuar fraca por causa da recessão e a capacidade de fornecimento continuar a crescer, a superprodução poderá chegar antes do fim desta década, afirma.

Os dados de Maugeri são uma pancada na tese do "pico do petróleo", segundo a qual as reservas são finitas e várias partes do mundo já alcançaram seu pico de produção. Daqui para a frente, reza a teoria, o óleo vai ficar cada vez mais escasso e caro. "As pessoas do mercado nunca levaram a tese do pico do petróleo a sério", disse Maugeri à Folha. "Sabemos que preço e tecnologia são os únicos fatores reais que controlam o fornecimento."

Tecnologia é justamente a razão do aumento na produção. Ele será puxado, afirma o estudo, pela retomada da produção no Iraque e, principalmente, pela exploração de fontes não convencionais de petróleo em três países: nos EUA, no Canadá e no Brasil. O maior acréscimo virá dos EUA, graças a uma tecnologia conhecida como fraturamento hidráulico ("fracking", em inglês). Ela permite extrair petróleo de formações rochosas antes inacessíveis.

Efeito geopolítico

A exploração por essa via começou em 2007. Em 2020, Maugeri calcula em 4,17 milhões de barris o petróleo adicional extraído dessa forma, o que fará dos EUA o segundo maior produtor, atrás somente da Arábia Saudita. A precondição para essa expansão toda é um preço mínimo de US$ 70 por barril, que viabilize a extração nos folhelhos dos EUA, nas areias betuminosas do Canadá e no pré-sal brasileiro.

Isso produziria um efeito colateral geopolítico: "O centro de gravidade do petróleo no fim desta década não será mais o Oriente Médio", diz. "Isso não significa que o hemisfério ocidental se torna independente", afirma Alexandre Szklo, professor de Planejamento Energético da Coppe-URFJ. "Mas põe os EUA numa posição muito mais confortável."

Segundo Maugeri, "o mercado toma consciência de que o petróleo iraniano não é mais necessário". Ele atribui a alta do barril para US$ 100 nesta semana a uma "reação psicológica" à crise persa, não a incertezas em relação ao suprimento do produto.

Fonte: Folha de São Paulo

Estudo indica não ter óleo em área do pré-sal

A área estudada em sísmica fica ao sul do BM-S-22, campo já licitado que também chegou a ser anunciado como uma grande promessa do pré-sal e cuja exploração não foi à frente

Rio de Janeiro (RJ) - Um estudo sísmico recém-concluído em Londres sugeriu uma formação geológica sem óleo numa área do pré-sal da Bacia de Santos que antes era vista como promissora pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). A agência programava contratar a perfuração de um poço no local por conta própria, por acreditar que a área poderia revelar um novo megacampo como os de Libra e Franco, usados no processo de cessão onerosa.

A área estudada em sísmica fica ao sul do BM-S-22, campo já licitado que também chegou a ser anunciado como uma grande promessa do pré-sal e cuja exploração não foi à frente. A operadora Exxon chegou a gastar mais de US$ 400 milhões para perfurar três poços, junto com as sócias Petrobras e a também americana Hess, antes de desistir da exploração. A concessão fica ao sul das descobertas Carioca e Guará, da Petrobras.

As apostas no potencial eram fortes também por estar perto de Pão de Açúcar, de estrutura geológica gigante. A sísmica ao sul desta área, contratada pela ANP, mostrou que o alto da formação geológica está seco, desaconselhando a exploração.

A perfuração de um poço em lâmina d'água com profundidade equivalente poderia custar mais de US$ 100 milhões à agência. Seria a primeira vez que a ANP desembolsaria um valor desses para contratar a perfuração de um poço antes de uma licitação. Geralmente, o risco da perfuração fica com as petroleiras e o órgão apresenta apenas estudos sísmicos.

Com o pré-sal, a ANP está mudando de estratégia. Pretende conhecer melhor e, se possível, valorizar as áreas antes de colocá-las ao mercado na 12.ª rodada de licitações. Dependendo do resultado, o órgão acredita que o investimento possa valer a pena.

No caso de Libra, cuja perfuração foi encomendada pela ANP à Petrobras, as apostas foram bem-sucedidas e o campo sozinho pode ir a leilão por um valor estimado entre R$ 20 bilhões e R$ 22 bilhões. A ANP tem prerrogativa prevista em lei para contratar a Petrobrás para perfurar áreas da União. A única vez que isso aconteceu foi no processo da cessão onerosa, com os megacampos de Libra e Franco, mas a Petrobras se dispôs a arcar com os custos.

Fonte: Agência Estado