Além do Brasil, Argentina, Colômbia, Paraguai e
Uruguai descobriram novas reservas; desafio é exploração
Brasil, Argentina - Na última década, foram descobertas reservas estimadas
em cerca de 100 bilhões de barris de petróleo na América do Sul, levando
especialistas a acreditar que a região pode se tornar autossuficiente no
setor.
O dado é do diretor executivo da Associação Latino-Americana de Integração
Petroleira (ALIP), o engenheiro de petróleo Nicolás Honorato. A ALIP foi criada
em 2009 para atender à crescente demanda de profissionais do ramo e para a troca
de informações sobre o uso de tecnologia com o aumento das descobertas de
petróleo na região.
"Quase todos os dias são anunciadas descobertas de petróleo na América
Latina. E a América do Sul vive um momento histórico, porque além das
descobertas convencionais surgiram o pré-sal, no Brasil, o gás de xisto, na
Argentina, e o aumento impressionante de descobertas e produção de petróleo
(convencional) na Colômbia", disse Honorato à BBC Brasil.
O grosso das novas reservas, 80%, vem do pré-sal brasileiro. Os restantes
20% estão nos subterrâneos de países como Colômbia, Argentina, Bolívia, Equador,
Uruguai e Paraguai.
Autossuficiência
Na avaliação de Honorato, tais descobertas poderiam levar a região perto de
se tornar autossuficiente.
Tal opinião é compartilhada pelo ex-secretário de Energia da Argentina,
Daniel Montamat, e o ex-vice-ministro da Bolívia, Carlos Alberto López.
Além das descobertas de novos campos, eles também creditaram a previsão
otimista à estabilidade econômica e política da região, apesar de anúncios
recentes de nacionalização de empresas estrangeiras, como foi o caso da YPF,
controlada pela espanhola Repsol, na Argentina.
Segundo Honorato, prova do potencial da região é o interesse recente
demonstrado pelas empresas estrangeiras.
Para o especialista, muitas delas têm mirado a América do Sul já que a
produção em outras regiões do planeta, como no Mar do Norte, está em
queda.
"Todos os olhares do mundo petroleiro estão voltados para a América do Sul
e para a América Latina em geral por ser uma das regiões que mais tem anunciado
a descoberta de reservas estimadas de petróleo", destaca.
Para Honorato, grande parte do sucesso da região poderá vir do
Brasil.
Segundo ele, caso as reservas do pré-sal brasileiro - estimadas por ele em
80 bilhões de barris de petróleo e pelo governo brasileiro entre 70 a 100
bilhões de barris - sejam realmente confirmadas, o Brasil passaria a ser o sexto
país com as maiores reservas da matéria-prima no mundo, atrás de alguns países
do Oriente Médio e da Venezuela.
Atualmente, o Brasil tem reservas estimadas em aproximadamente 13 bilhões
de barris, de acordo com a agência de energia dos Estados Unidos (EIA, na sigla
em inglês), e ocupa a 14ª posição mundial.
Tecnologia
Para López, da Bolívia, o segredo da exploração do ouro negro está no uso
da tecnologia cada vez mais avançada.
"A aplicação de novas técnicas e condições geopolíticas nos permitem dizer
que ser uma região autossuficiente já não é mais apenas um desejo. Só não
sabemos quando ocorrerá", afirmou.
Montamat concorda e diz acreditar que a tecnologia será "decisiva" para que
a região passe a ser uma potência petroleira.
"A região como conjunto não é potência de petróleo e de gás porque as
reservas ainda precisam ser desenvolvidas", explica.
"Mas a Venezuela, por exemplo, por si só, já tem mais reservas provadas do
que a Arábia Saudita", acrescenta.
Dados de 2011 da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP)
indicam que a Venezuela possui reservas estimadas em 297,5 bilhões de barris,
enquanto as da Arábia Saudita alcançariam 265,4 bilhões de barris.
Recentemente, lembraram os especialistas, Uruguai e Paraguai também
anunciaram ter encontrado petróleo em seus territórios, apesar de o quadro ser
ainda embrionário.
Estabilidade
Honorato também lembrou que a estabilidade política e econômica conquistada
pela América do Sul nos últimos anos ajudou a atrair o interesse de empresas
estrangeiras do ramo do petróleo e gás.
"Empresas, principalmente, da Europa e do Canadá estão se orientando para a
América do Sul e este movimento começou antes do pré-sal", disse.
Apesar de ter mencionado o atraso nos leilões do pós-sal e do pré-sal no
Brasil, Honorato afirmou que a situação hoje na região é muito mais favorável ao
capital estrangeiro do que antigamente.
Um dos exemplos, segundo ele, foi a Lei do Petróleo no Brasil, que acabou
com o monopólio da Petrobras e, assim, permitiu a exploração de campos por
empresas estrangeiras.
Honorato mencionou também que, em 2005, a Colômbia mudou seu marco
regulatório, despertando uma espécie de "corrida ao ouro negro" do país.
A expectativa é de que o país deixe de ser importador e passe a ser
exportador de petróleo e, assim, como ocorre com a Venezuela e o Brasil, passe a
desfrutar as maiores receitas geradas pelo combustível.
Segundo ele, o Equador também mudou seu marco regulatório e aumentou a
chegada de investimentos no setor petroleiro.
Já o Peru, na sua avaliação, é um país que "ainda não decolou" e registra
uma produção abaixo dos 50 mil barris diários. BBC Brasil - Todos os direitos
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Fonte: Estadão