O campo de Lula é uma das cinco áreas nas quais a BG tem participação no pré-sal da Bacia de Santos.
Brasil - A britânica BG Group vai reinvestir no Brasil os R$ 3,4 bilhões (US$ 1,7 bilhão) obtidos com a venda da participação societária do grupo na Companhia de Gás de São Paulo (Comgás) para a Cosan. "O dinheiro da venda da Comgás será todo reinvestido no Brasil", disse Andrew Gould, presidente do conselho de administração da BG. A empresa é uma das principais parceiras da Petrobras no pré-sal da Bacia de Santos. Gould assumiu o cargo em maio e tem como desafio de curto prazo encontrar o substituto para o presidente-executivo da companhia, Frank Chapman, que se aposenta em 2013.
A venda para a Cosan dos 60% que a BG tinha na Comgás se insere em decisão estratégica global do grupo britânico de sair de ativos nas áreas de transmissão e distribuição de gás, bem como de geração elétrica. O movimento busca concentrar investimentos na exploração e produção de petróleo e gás, em especial no Brasil e na Austrália, países onde a BG concentra esforços. "Se todas as transações que anunciamos tiverem sido concluídas, teremos atingido nossa meta de [obter] US$ 7,6 bilhões até meados de 2013", disse Gould. Ele esteve no Brasil na semana passada para reuniões com a diretoria da BG Brasil e da Petrobras e manteve encontros com autoridades do governo, em Brasília.
Os US$ 7,6 bilhões serão usados, em grande parte, nos projetos do Brasil e da Austrália. Na Austrália, a empresa investe em gás de carvão para liquefação e foca na exportação. No Brasil, os investimentos estão voltados para a produção de petróleo. A empresa tem como meta produzir no Brasil 600 mil barris de óleo equivalente por dia (BOE) em 2020, quando planeja tornar-se a segunda maior produtora de petróleo do Brasil, atrás da Petrobras. Para atingir essa meta, a BG anunciou investimentos de US$ 30 bilhões até o fim da década, sendo que mais de US$ 5 bilhões já foram investidos. Em 2011, a receita do grupo BG foi de US$ 21 bilhões e o lucro líquido chegou a US$ 4,2 bilhões.
O crescimento da BG no Brasil também passa por analisar novas oportunidades. "Se houver nova rodada [de licitação] para exploração offshore, tenho certeza de que a BG teria interesse de participar", disse Gould. O investimento exigido em exploração e produção será garantido, em parte, com as vendas de ativos. Gould citou como exemplos de desinvestimento, além da Comgás, a venda do negócio de geração elétrica nas Filipinas, os ativos de transmissão e distribuição na Índia e um terminal de regaseificação no Chile. A BG também fechou acordo para vender sua participação na Gas Argentino, controladora da distribuidora de gás MetroGas. O programa de desinvestimento foi concluído, segundo Gould, com a venda de parte do projeto de gás natural em Queensland, na Austrália, para a chinesa CNOOC.
Mesmo com a venda da Comgás, existe possibilidade de a BG Brasil vir a fornecer gás natural do campo de Lula, na Bacia de Santos, para a distribuidora paulista de gás. Em nota, a BG afirmou: "A BG vem mantendo constantes entendimentos com a Comgás - bem como com outras distribuidoras - sobre a possibilidade de fornecimento de gás natural. Existem ainda incertezas quanto ao volume de gás natural oriundo de Lula que estará efetivamente disponível para comercialização. Esta incerteza advém do fato de que ainda estão em estágio inicial os testes para definição da quantidade de gás que será necessária para reinjeção no campo, visando otimizar a produção de petróleo. Esta informação é fundamental para que as partes possam progredir nos entendimentos."
O campo de Lula é uma das cinco áreas nas quais a BG tem participação no pré-sal da Bacia de Santos. As outras são Iracema, Sapinhoá, Iara e Carioca. Gould disse que a empresa não tem planos de vender ativos no pré-sal. Em 2011, surgiram rumores de que a BG iria vender ativos de exploração. Em resposta à pergunta se a hipótese de venda no pré-sal chegou a ser considerada, Gould afirmou: "Creio que nós talvez tenhamos testado o mercado, mas ninguém chegaria próximo do que nós achávamos que era o valor dos ativos. Portanto, nós retiramos [a ideia] do mercado. E no momento não há nenhum plano para vender qualquer dos ativos do pré-sal."
Fonte: Valor Econômico