segunda-feira, setembro 17, 2012

ANP notifica Petrobras por queda na produção em Campos

A ANP confirmou que, por causa da queda na produção de óleo, determinou à Petrobras a revisão de seus PD dos campos gigantes da Bacia de Campos, todos do pós-sal

Rio de Janeiro (RJ) - A Agência Nacional do Petróleo (ANP) notificou a Petrobras para que apresente novos Planos de Desenvolvimento (PD) de 11 áreas da Bacia de Campos por estarem apresentando uma acentuada queda na produção de petróleo. Campos gigantes como Roncador já acumulam queda de 27% na produção. Em Marlim Sul, o percentual é de 65% e, em Caratinga, a queda chega a 76%. A notificação foi dada em fins de junho último, e o prazo para a Petrobras apresentar os novos planos para elevar a a produção termina no próximo dia 30. Se não cumprir a determinação da agência, a Petrobras poderá ser multada.
 
A ANP confirmou que, por causa da queda na produção de óleo, determinou à Petrobras a revisão de seus PD dos campos gigantes da Bacia de Campos, todos do pós-sal. A Petrobras, por sua vez, nega e diz que a solicitação da agência faz parte de um cronograma que termina em novembro próximo, mas que não tem qualquer ligação com a queda de produção. Dados a que O Globo teve acesso mostram que o campo de Roncador previa produção máxima de 460 mil barris diários de petróleo, mas só atingiu 358 mil barris em 2008. Hoje, está em 261 mil barris diários.
 
O consultor e ex-diretor de exploração e produção da Petrobras, Wagner Freire, disse que essa queda é muito acentuada e, na sua opinião, isso indica que a Petrobras está dando prioridade aos investimentos no pré-sal, já que o caixa está mais apertado. O executivo explicou que os campos têm um declínio natural de produção entre 8% e 10% ao ano, segundo a média mundial. A Petrobras informou que o declínio de seus campos é da ordem de 11% ao ano.
 
Para reduzir a queda na produção, a tecnologia mais usada no mundo é injetar água ou gás por meio de poços especiais porque isso aumenta a pressão nos reservatórios. “Essas quedas mostram que está havendo um gerenciamento inadequado dos recursos. O pré-sal foi avaliado de forma precipitada e, além de interromper novos leilões (rodadas de licitação) de áreas, já afeta a produção do pós-sal”, disse Freire.
 
Outro campo com forte queda de produção é o de Albacora, onde está instalada a plataforma P-50, que tornou-se símbolo da autossuficiência em petróleo em 2006. A P-50 está produzindo cerca de 180 mil barris diários de líquidos, segundo a própria Petrobras. No entanto, desse total, apenas 66 mil barris são de óleo. O restante é de água.
 
Estatal discute adiar prazos
 
A Petrobras explicou que os volumes de produção de água e óleo na P-50 variam ao longo do tempo e há monitoramento constante para encontrar soluções que elevem a produção.
 
Já o sistema do Campo de Barracuda tem capacidade para produzir 180 mil barris diários, mas só atingiu 145 mil até hoje. Atualmente, produz 106 mil barris, em queda de 26,8%. Em Caratinga, a capacidade máxima é de 180 mil barris por dia e o pico foi de 143 mil. Agora, produz apenas 34 mil barris diários, queda de 76%. O Campo de Marlim Sul, com capacidade de produzir até 895 mil barris diários, chegou no máximo a 600 mil barris diários, e atualmente está produzindo 210 mil, queda de 65%.
 
Segundo uma fonte, a ANP solicitou que a Petrobras fizesse imediatamente uma revisão nas calibrações do gás lift, que é injetado nos poços. A agência exige ainda que, se necessário, a Petrobras perfure novos poços de injeção ou modifique os sistemas de fluidos para aumento da produção.
 
Mas, segundo uma fonte do setor, há uma resistência dentro da diretoria de Exploração e Produção (E&P) da Petrobras em executar logo esse trabalho porque ele implicaria em elevados custos, num momento em que a Petrobras amarga um prejuízo trimestral de R$ 1,3 bilhão este ano. Na área de E&P, começa a prosperar a ideia de que a Petrobras deve reivindicar a extensão dos prazos de concessões desses campos para adiar investimentos e ganhar tempo. Esses prazos vencem entre 2020 e 2025. Mas a ANP já acenou para a Petrobras que isso não será possível.
 
Fonte: Jornal O Globo