O Estaleiro Atlântico Sul (EAS) está com 22 navios em sua carteira de encomendas, o casco da P-55, além das sete sondas de perfuração em grandes profundidades assinadas com a Sete Brasil no início do ano. A entrega do navio João Cândido, o primeiro a ser lançado ao mar dos encomendados pelo Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef) da Transpetro, deveria ser feita em 2010, mas o atraso vai se prolongar até 2012. O diretor administrativo do estaleiro, Sérgio Loureiro, respondeu por email às perguntas do repórter Daniel Fraiha e negou que o navio tenha problemas em sua estrutura. De acordo com o executivo, um dos motivos para os atrasos foi a necessidade de formar mão de obra local.
Quais navios estão em construção no momento, em que fase estão, e quais as previsões de entrega?
Temos 22 navios petroleiros em carteira, encomendados pela Transpetro. Dois desses navios se encontram numa etapa mais avançada de construção. O petroleiro Suezmax João Cândido está em fase final de seus testes de sistemas e acabamento e, tão logo sejam concluídos esses procedimentos, seguirá para a etapa de provas de mar, que precede a entrega do navio ao armador, a Petrobrás Transporte S/A (Transpetro). A entrega será realizada no início do ano de 2012. Em relação ao petroleiro Suezmax Zumbi dos Palmares, segunda embarcação das encomendas da Transpetro, a entrega será entre julho e agosto de 2012.
Há rumores de que navio João Cândido está com problemas de acabamento. É verdade?
O navio João Cândido não apresenta qualquer problema estrutural, segundo atesta a American Bureau of Shipping (ABS), uma das maiores classificadoras da indústria naval mundial.
Como foi o processo de construir o estaleiro e os primeiros navios ao mesmo tempo?
Num momento inicial da história do EAS, a construção em paralelo do estaleiro e do seu primeiro navio, somada ao treinamento e à curva de aprendizagem dos funcionários, resultou numa complexa gestão de projeto. Hoje boa parte dos desafios estão superados. O Estaleiro Atlântico Sul, que já está concluído, é o maior estaleiro do país e também o mais moderno. Ele representa a retomada da construção naval no país nos moldes internacionais de qualidade e nível tecnológico que produzirá navios do mesmo padrão que os mais modernos do mundo. E optamos por utilizar mão de obra local. Isso demandou aprendizado e tempo necessário para treinar nossos operários até deixá-los aptos a fazer o trabalho de forma rápida e eficaz. Mas também estamos conseguindo superar essa curva. Vale ressaltar que qualquer outro estaleiro que venha a surgir no país vai passar por um período de dificuldade semelhante ao que nós passamos. O Brasil precisa voltar a formar mão de obra especializada para essa área.
Quais as expectativas com a licitação das 21 sondas da Petrobrás para o pré-sal? Como será a fabricação dessas sondas, mais de uma ao mesmo tempo ou uma de cada vez?
Por uma questão estratégica e de mercado, a nossa empresa prefere, por ora, não tecer comentários sobre os navios-sonda.
Como vêem o mercado de mão de obra para a indústria naval atualmente?
A qualificação da mão de obra é um dos maiores desafios do setor naval e de petróleo e gás como um todo no Brasil. Somos parceiros ativos na superação desse problema. Firmamos convênios e parcerias com diversas instituições técnicas e acadêmicas, com o Governo Federal, Governo de Pernambuco e Prefeitura de Ipojuca para formar trabalhadores em todos os níveis, do operário ao profissional pós-graduado. É um desafio. Mas também é uma oportunidade para milhares de brasileiros de conseguir formação e especialização em profissões que serão cada vez mais requisitadas pelo mercado.
Como lidou com as greves de funcionários e quais foram os motivos?
Ao longo do mês de setembro, houve um movimento grevista conduzido por um grupo minoritário de funcionários, à revelia da campanha salarial da categoria dos metalúrgicos e do Sindicato dos Metalúrgicos de Pernambuco. Esse movimento, como é de conhecimento público, resultou em violência contra os trabalhadores da própria empresa, impedimento ao direito de ir e vir no Complexo de Suape, depredação do patrimônio público e privado e na instauração de um clima de terror, ameaças, constrangimento e boatos no Estaleiro. Essa situação impactou fortemente as atividades da empresa, afetando as suas operações e prejudicando a finalização do navio. Democraticamente, o EAS sentou-se à mesa de negociações com o Sindicato, sempre com mediação da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego e do Ministério Público do Trabalho de Pernambuco. E foi usando os mecanismos do Estado Democrático de Direito que superamos esse conflito.
Há rumores no mercado de que o EAS estaria com um déficit superior a R$ 1,2 bilhão no caixa. É verdade?
Não. Não há esse déficit.
Acreditam que o Brasil terá condição de competir em pé de igualdade com os estaleiros de Cingapura e Coréia do Sul no futuro?
Fazer navio no Brasil é um grande desafio, mas precisamos ter essa ousadia e firmeza de propósito. O que difere países desenvolvidos dos em desenvolvimento é a capacidade de produzir bens com alto valor agregado e com tecnologia de ponta. É isso que o Brasil quer ser e é isso que ele está fazendo. E nós fazemos parte desse projeto. A indústria local nunca será capaz de produzir um navio se não houver um investimento maior inicialmente. Jamais desenvolverá essa competência e essa habilidade se os navios forem adquiridos no exterior. Trata-se de uma escolha de política industrial: o que é ou não mais apropriado para o desenvolvimento do país e de sua indústria. E se em 20 a 30 anos a Coréia do Sul conseguiu se firmar como potência da construção naval, por que o Brasil, que já foi o número dois do setor no mundo, não pode soerguer a sua indústria de embarcações e competir internacionalmente?
Fonte: http://www.clickmacae.com.br/