segunda-feira, setembro 21, 2009

Cientistas criam "língua artificial" com paladar

Uma "língua eletrônica" capaz de medir digitalmente o sabor da doçura acaba de ser desenvolvida, informa um novo estudo. A técnica utiliza um pedaço de papel do tamanho de um selo postal e recoberto por pigmentos coloridos. Um computador compara imagens digitalizadas dos pontos pigmentados antes e depois que o papel é umedecido por meio de um conta-gotas repleto de líquido.
Depois de testar dezenas de amostras de adoçantes artificiais não identificados, dissolvidos em água ou chá, os pesquisadores reportaram que a língua eletrônica era capaz de identificar o adoçante usado com precisão de quase 100%.
Mas o dispositivo só funciona coletivamente. Nenhum dos pontos - cada qual formado por um gel revestido de um pigmento que reage a um adoçante específico - seria capaz de detectar um açúcar ou substituto de açúcar sem ajuda dos demais pontos, de acordo com Kenneth Suslick, diretor do estudo e professor de química na Universidade do Illinois em Urbana-Champaign.
"Não é como uma chave universal", disse Suslick. "Não é dessa maneira que a língua humana funciona - ou que o nariz humano funciona. E assim, tampouco é a forma pela qual a língua eletrônica deve funcionar".
Um fim amargoA língua humana é capaz de detectar sabores salgados, amargos, azedos e condimentados. Um sabor azedo indica a presença de ácidos, diz Suslick, e é fácil conduzir um teste para detectar sua presença ¿qualquer aluno de química de segundo grau, usando papel tratado quimicamente, seria capaz de conduzir um teste eficiente.
Os sabores condimentados, conhecidos também como "umami", e os salgados já podem ser medidos por aparelhos portáteis sensíveis aos níveis de proteína e sódio, e de íons de potássio. A dimensão final do sabor que ainda não tem como ser testada é a do amargor, que continua a ser uma incógnita.
"Nós aglomeramos diversas coisas em uma só palavra", diz Suslick, cujo estudo foi publicado na edição de 1° de agosto da revista Analytical Chemistry. "Ainda não está claro quais são os receptores do amargor (na língua) e a que eles reagem".
Ainda assim, passadas pesquisas de Suslick e colegas ajudaram a iSense, uma empresa da Califórnia, a desenvolver tecnologia capaz de detectar gases nocivos, para ajudar trabalhadores de resgate e militares. Outras aplicações futuras, diz Suslick, devem incluir uma espécie de bafômetro que poderia detectar bactérias perigosas e biomoléculas, e assim oferecer alerta antecipado quanto doenças como pneumonia e câncer do pulmão.
A lacunaEric Anslyn, professor de química na Universidade do Texas em Austin, afirmou em e-mail que uma língua artificial capaz de detectar apenas as cinco grandes categorias de sabor ainda estaria perdendo muita coisa. Boa parte daquilo que experimentamos como sabor na verdade é odor, diz Anslyn, que não está envolvido na pesquisa de Suslick.
"Se você tampar o nariz e segurar a respiração ao comer, é capaz de engolir algum alimento de que não gosta - todos nós sabemos disso", diz. "Portanto, estaremos perdendo uma vasta proporção do sabor se não incluirmos a dimensão acrescida pelo odor".
O sensor de doçura, diz Suslick, "representa apenas uma pequena parte de um programa muito mais amplo para criar uma nova tecnologia capaz de imitar nossos sensos de olfato e paladar".


Fonte: www.terra.com.br