sábado, novembro 06, 2010

A verdade e os mitos por trás do pré-sal


O Brasil descobriu petróleo no pré-sal nos anos 50 e já o explora há décadas. O que houve agora foi a descoberta de grandes reservas, mas nem todo produto é de boa qualidade. A produção iniciada em Tupi é mínima perto do total extraído no Brasil. Principalmente é falsa a ideia de que o pré-sal é a solução mágica que garante o futuro. O governo faz confusão proposital quando o assunto é petróleo.

A excessiva politização do tema está criando mitos e passando para o país a ideia de que agora ganhamos na loteria, um bilhete premiado, que vai produzir dinheiro abundante que resolverá todos os nossos problemas. Isso reforça a tendência a acreditar na quimera, no “deitado em berço esplêndido”, que tem feito o país perder chances e assumir riscos indevidos.

A primeira descoberta de petróleo no pré-sal do Brasil foi em 1957 no campo de Tabuleiro dos Martins, em Maceió. A segunda foi em Carmópolis, em 1963. Ainda hoje se produz petróleo nos dois campos: no segundo, 30 mil barris por dia. O campo de Badejo, na Bacia de Campos, também fica na camada do pré-sal. Ele foi descoberto em 1975. Os dados contrariam o marketing do “nunca antes” e que esse petróleo é o “passaporte para o futuro”, como tem dito a candidata Dilma Rousseff.

Há produção de petróleo em campos de pré-sal no mundo inteiro. No Golfo do México, no Oriente Médio, no oeste da África, no mar do Norte. Um dos mais famosos é o de Groningen, na Holanda, descoberto pela Shell em 1959. Ainda hoje se tira petróleo de lá.

— O pré-sal invenção brasileira é uma distorção de marketing inventado pelos políticos do governo com apoio dos ideólogos da Petrobras e da ANP — explica o ex-diretor da Petrobras, Wagner Freire.

O Brasil produz hoje dois milhões de barris de petróleo por dia. Na melhor estimativa, a produção do pré-sal chegará a esse volume daqui a cinco anos. A exploração definitiva do campo de Tupi, que começou ontem, mas que na verdade ainda se encontra na fase de testes, foi de 14 mil barris, cerca de 0,7% da produção atual. A projeção é que em 2012 produza 100 mil.

— Na rodada zero de licitações, em 1998, a ANP permitiu que a Petrobras escolhesse todos os campos que gostaria de explorar. Ela não quis as áreas do pré-sal. Na época, o barril do petróleo custava em torno de US$ 15. Por esse preço, a exploração era inviável pelos custos e dificuldades. Hoje, o petróleo está cotado a US$ 80. É por isso que a produção começou a valer a pena — lembra o consultor Adriano Pires.

O campo de Tupi foi licitado para a Petrobras e outras empresas privadas no ano 2000, como resultado da segunda rodada da ANP. Em 2007, foi comprovado que havia petróleo e, diante dos indícios de grandes reservas 47, blocos do pré-sal foram retirados da competição.

Até agora ainda não se sabe quais são as reservas de Tupi. A Petrobras afirma que existem de 5 a 8 bilhões de barris. Mas a certificadora Gaffney, Cline & Associates, que foi contratada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) para analisar o campo, estimou um volume menor: de 2,6 bilhões de barris. Quem está certo? Ninguém sabe. É preciso fazer mais prospecção.

O relatório da Gaffney também diz que um dos campos de pré-sal, o de Júpiter, tem óleo pesado, ou seja, com menor qualidade, explica Wagner Freire. O gás possui 79% de CO2 e o petróleo é de 18° de API. O petróleo do tipo Brent e WTI, que são referência no mundo, possuem API acima de 30°. Quanto mais alta essa medida, mais leve é o petróleo, ou seja, dele se retira maior volume dos derivados mais valorizados. O petróleo que hoje se extrai no Brasil é de 20° a 22°. Tupi é um pouco melhor, 26°, mas ainda assim não chega ao nível do Brent e do WTI.

O fato de ter alto teor de CO2 no gás em Júpiter é um complicador. Se o CO2 for para a atmosfera, aumentará muito as emissões de gases de efeito estufa do Brasil.

Todo brasileiro admira a capacidade da Petrobras, provada ao longo de cinco décadas, de encontrar petróleo, desenvolver tecnologias e produzir em águas profundas. Mas a propaganda tem distorcido tudo, como se houvesse uma Petrobras velha e uma nova, do PT.

Não é verdade também que antes o petróleo brasileiro era carne de pescoço e agora acharam filé. Temos no Brasil óleos mais leves, ou seja filé mignon, em poços como os do Espírito Santo. O de Urucu na Bacia do Solimões é leve e sem enxofre, melhor que o Brent. E tem petróleo leve e pesado no pré-sal.

A Gaffney, que fez o estudo para a ANP, concluiu que todas as reservas do pré-sal juntas têm potencial de 15 a 20 bilhões de barris. Isso é uma boa notícia porque significa dobrar as reservas provadas do Brasil, que em 31 de dezembro de 2009 estavam em 15,2 bilhões. Poderíamos chegar a 35 bilhões e ganharíamos cerca de seis posições no ranking mundial de países com potencial para explorar petróleo, saltaríamos do 16º lugar para 10º, ao lado da Nigéria. Ainda assim, estaríamos longe de países como Arábia Saudita, com 314 bilhões de barris em reservas; Irã, com mais de 138 bilhões; Iraque, 115 bilhões; Kuwait, com 113 bilhões. Não seríamos também o primeiro da América do Sul porque a Venezuela tem mais de 99 bilhões de reservas comprovadas.

Há dificuldades técnicas nada desprezíveis para a produção desse petróleo em larga escala.

— Para se ter ideia, o campo de Roncador, que é no pós-sal, e foi descoberto em 1996, com três bilhões de barris de reservas, ainda não tem seu plano de desenvolvimento completo. E o desenvolvimento e a operação do pré-sal são mais complexos e mais caros — diz Freire.


Não existe um pote de ouro depois do arco-íris que vai resolver todos os nossos problemas. Ainda não inventaram um passaporte para o futuro que não seja trabalhar muito, poupar mais, investir sempre e, principalmente, educar a população.

Fonte: http://www.portalnaval.com.br/

Petrobras adia licitação de compra de navios


Um impasse ambiental levou a Petrobras a adiar novamente a licitação de compra de 28 navios-sondas para a exploração do pré-sal, encomenda que pode chegar a US$ 30 bilhões। A abertura das propostas estava prevista para amanhã. Segundo a estatal o prazo foi estendido para depois do dia 17.

Há um conflito de interpretação entre os grupos participantes sobre algumas regras do edital no que diz respeito ao licenciamento ambiental dos estaleiros que irão construir os navios. Isso vem atrasando a divulgação do resultado da licitação, cujo processo teve início em outubro de 2009 e, segundo especialistas, já pode comprometer o cronograma de exploração do pré-sal.
O consórcio liderado pela construtora Odebrecht (em parceria com OAS e a UTC) questionou o licenciamento ambiental do grupo composto pela Alusa e Queiroz Galvão. A Odebrecht teria também questionado a documentação ambiental do projeto Eisa Alagoas, empresa do grupo Synergy.
As empresas Alusa, Eisa e Jurong apresentaram recursos alegando que as áreas onde serão construídos seus estaleiros estão legalizadas e licenciadas, sem pendências com o Ibama ou com outros órgãos ambientais.
A Petrobras confirmou em nota enviada à Folha que o adiamento da licitação se deveu ao impasse com relação à documentação ambiental, mas não entrou em detalhes. Disse apenas que até o próximo dia 17 as empresas devem apresentar as licenças de instalação ou de operação emitidas pelos órgãos ambientais. E que, findo esse prazo, ela marcará a data de abertura dos envelopes.
Segundo a companhia, a exigência desses documentos já estava originalmente no processo de contratação das sondas de perfuração marítima e não comprometem a competitividade.
"A produção do pré-sal não vai ter relação com o caixa da Petrobras, se ela está capitalizada ou não, mas principalmente com a velocidade da indústria nacional de fornecer os equipamentos para a produção em tempo hábil", diz Adriano Pires, especialista em energia e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie).

Fonte: http://www.portalnaval.com.br/

Refinaria do CE será ´crucial´ para o pré-sal


Com cinco novas refinarias instaladas até 2015, refino passará a ser de cerca de 3,5 milhões de barris/dia

A refinaria do Ceará, assim como a do Maranhão, será "crucial" para o pré-sal. Desta vez, a fala não é de nenhum político cearense, mas sim da presidente eleita Dilma Rousseff (PT), que citou as três refinarias previstas para o Nordeste - do Ceará, do Maranhão e de Pernambuco - durante a entrevista coletiva que deu ontem ao lado do presidente Lula da Silva.

Segundo a presidente eleita, as refinarias Premium do Ceará e do Maranhão são cruciais para o pré-sal porque o País não pode ser exportador de óleo bruto. "Porque se a gente for exportador de óleo bruto, nós vamos perder muito dinheiro. Nós temos que ter duas refinarias Premium, não por uma mania de grandeza, como algumas vezes a oposição falou da Petrobras, mas por uma estratégia", disse. Em maio de 2010, a capacidade total de refino da empresa, era de 2,2 milhões de barris diários. Segundo a Petrobras, com cinco novas refinarias instaladas até 2015, passará a ser de cerca de 3,5 milhões de barris/dia. O começo da operação da refinaria do Ceará (Premium II) está previsto para 2017, com capacidade para refinar 300 mil barris por dia. "Você tem que refinar porque quando se refina, o preço do petróleo sobe mais que proporcionalmente ao custo do refino e te permite entrar em uma outra área, delicadíssima, que chama-se petroquímica. Que, aí, o ganho é acima de mil por cento. E todo o desenvolvimento de todo país do mundo é petroquímico-dependente", acrescentou a presidente eleita.

Dos investimentos previstos pela Petrobras para refino e petroquímica entre 2010 e 2014, cerca de US$ 73,6 bilhões, 50% são para a ampliação do parque de refino no País. Novas refinarias, qualidade do combustível e modernização somam 70% do total dos investimentos para o período. Os dados são do plano de Negócios da Petrobras 2010-2014.

Com a construção das novas unidades de refino até 2015, a Petrobras pretende atender à totalidade da demanda, com grande superávit exportável. No Nordeste, estão previstas as refinarias de Abreu e Lima, em Pernambuco, com início em 2013, e Premium I, no Maranhão, a partir de 2014. A primeira terá capacidade para refinar 230 mil barris/dia e a segunda, capacidade para 300 mil barris/dia na primeira fase e outros 300mil/dia na segunda fase.
Exploração

O Ceará também será beneficiados com recursos para exploração de dois novos poços em águas profundas. Devem ser investidos nessa atividade até R$ 350 milhões até 2014, dos quais R$ 200 milhões apenas em 2011. A Petrobras não confirma a localização exata dos novos poços, mas o Diário do Nordeste apurou que as perfurações em águas profundas serão nos campos de Xaréu e de Espada, ambos em Paracuru (a 87,90 quilômetros de Fortaleza).

Estimativas extraoficiais dão conta de que desde o início das perfurações até a plataforma ser entregue para a exploração são gerados cerca de dois mil empregos diretos e indiretos (em cada plataforma). Destes, entre 80 e 90 seriam empregos diretos. Esse cálculo leva em conta serviços como transporte e alimentação.

De acordo com uma fonte não oficial, há possibilidade de que em Xaréu a exploração acabe resultando não só em uma nova plataforma, mas em um novo campo de petróleo. O local a ser explorado em Xaréu ficaria a cerca de 15 milhas náuticas de Paracuru, a aproximadamente 28 km do município. Os últimos investimentos em exploração de petróleo no Ceará haviam sido no início da década de 1990, no campo de Atum. No Ceará, há nove plataformas, em quatro campos petrolíferos. Todos estão no litoral de Paracuru: Curimã (duas plataformas), Espada (uma plataforma), Atum (três plataformas) e Xaréu (três plataformas).

CRISTIANE BONFIM
REPÓRTER

Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/