A cidade que expulsou Lampião assiste a chegada de um novo bando. Desta vez, de investidores. Nos últimos seis anos, 25 novas empresas se instalaram em Mossoró. Outras dez estão se instalando e o número poderá se tornar ainda maior. O município vem sendo olhado com interesse por grupos como o M. Dias Branco, que pretende construir três fábricas de cimento no Nordeste e não descarta que também “pensa” na segunda maior cidade potiguar.
O fortalecimento da indústria mossoroense, segundo Nilson Brasil, secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, é resultado de uma combinação entre localização geográfica e políticas de incentivo aos investidores. A fórmula surtiu efeito. Em 2008, o PIB industrial de Mossoró foi o maior do Rio Grande do Norte, superando inclusive o de Natal. Dados do IBGE mostram que o PIB industrial de Mossoró subiu 490% em nove anos, passando de R$201 milhões, em 1999, para R$ 1,18 bilhão, em 2008, enquanto o de Natal, cresceu 87,8%, levando em consideração o mesmo período.
O feito pode ser comparado a derrota do maior cangaceiro do País, registrada em vários folhetos de cordel, ou à batalha entre Davi, o jovem atirador, e Golias, o gigante impiedoso, descrita no antigo testamento. Não foi fácil derrotar o perfil, tipicamente primário, e se seguir rumo a industrialização. Com o tempo, e um pouco de sorte, o município descobriu que podia mais e deixou de ser apenas exportador de frutas.
De acordo com o economista Aldemir Freire, chefe do IBGE/RN, não é possível dizer se o PIB industrial de Mossoró continuará subindo mais do que o de Natal. “É difícil fazer esta previsão. A minha expectativa pessoal é que o PIB industrial de Mossoró continue crescendo nos próximos anos. O único setor que pode registrar alguma retração seria a produção de petróleo. Caso esse setor apresente uma retração mais acentuada em função do esgotamento dos poços, o crescimento da economia local pode sofrer algum abalo”, prevê. Ele relembra que a indústria de Mossoró tem como carros-chefe a produção de petróleo e gás, a produção de cimento, a moagem e refino de sal, a indústria cerâmica, a construção civil e o setor de alimentos.
O município produz frutas tropicais, sal marinho, petróleo, gás, cimento. “Somos o maior produtor de sal marinho do País (detemos 95% da produção nacional), maior produtor de frutas tropicais e o maior produtor de petróleo, em terra, do Brasil”, orgulha-se o secretário, cujo município é destaque na indústria salineira, fruticultura irrigada, exploração de petróleo e gás e na extração mineral. Para os próximos anos, os gestores esperam um crescimento acima da média “como vem acontecendo ultimamente, sobretudo na construção civil”, afirma Nilson.
Para João Rodrigues Neto, professor do Departamento de Economia da UFRN, o crescimento industrial do município deve-se, em parte, ao Programa de Apoio ao Desenvolvimento Industrial (Proadi), responsável pela captação de investimentos privados para acelerar o processo de industrialização da região. “O resultado do Proadi indica que 31 indústrias se instalaram na região entre 2003 a 2009. Vale ressaltar que o Proadi é responsável por 63% dos empregos na indústria, conforme dados do governo estadual”, afirma.
Segundo ele, a indústria ceramista, com a instalação de empresas como a catarinense Porcelanatti e a Indústria de Cerâmica e de Louça Sanitária e a Química Industrial ITAMIL, e a produção petrolífera, com o leilão de blocos, que será realizado pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) no segundo semestre de 2011 são promissoras.
Apesar das perspectivas, Aldemir Freire, chefe do IBGE, alerta que Mossoró não é uma ilha. “Seu desempenho depende do desempenho da economia brasileira”. Estabilidade monetária, queda dos juros, aumento do crédito, expansão da renda e do emprego e redução da pobreza são condições macroeconômicas capazes de alavancar o desenvolvimento do município.
Fonte: http://tribunadonorte.com.br/