O anúncio da descoberta do pré-sal em 2007 mudou radicalmente o panorama do setor de petróleo e colocou o País sob os holofotes mundiais. Com esses recursos, o Brasil pode mais que triplicar suas reservas petrolíferas até 2020 e ingressar no clube dos maiores produtores do mundo.
Hoje, o País tem reservas provadas de 15,7 bilhões de barris de petróleo. Estimativas da Coppe/UFRJ apontam potencial de mais 55 bilhões nos próximos seis anos, a maior parte localizada no pré-sal.
Para tornar essa projeção uma realidade, porém, Petrobrás e outras petrolíferas têm pela frente dois grandes desafios: desenvolver tecnologias que permitam a exploração submarina abaixo da camada de sal com segurança e identificar fornecedores locais que atendam à demanda a preços competitivos e dentro de prazos apertados.
Atualmente, o Brasil ocupa a 14ª posição no ranking mundial de reservas de petróleo, liderado pela Arábia Saudita, segundo dados da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Com mais 55 bilhões de barris, o País subiria para a 8ª posição, ultrapassando nações como Líbia e Cazaquistão.
Em um esforço de viabilizar a produção e fazer novas descobertas no pré-sal, Petrobrás e empresas parceiras estão investindo US$ 93 bilhões entre 2012 e 2016. O montante equivale a 40% de todo o investimento previsto pela estatal no período.
Na avaliação do diretor de tecnologia e inovação da Coppe/UFRJ, Segen Estefen, são três os desafios tecnológicos impostos pelo pré-sal: desenvolvimento de materiais anticorrosão, para profundidades que variam de cinco mil a sete mil metros a partir do nível do mar; aprimoramento das técnicas de perfuração, para driblar a espessa camada de sal e mais cinco quilômetros de rochas; e o escoamento da produção, pois as plataformas ficam a 300 quilômetros da costa.
Corrida. Desde que o primeiro óleo foi extraído do pré-sal, em setembro de 2008, esses desafios vêm, aos poucos, sendo vencidos. Hoje, há oito campos em produção comercial no pré-sal nas bacias de Campos e Santos. Deles são extraídos mais de 200 mil barris de petróleo por dia, uma produtividade que surpreendeu a própria Petrobrás.
A maior dificuldade tem sido o transporte até a costa. Uma opção, aponta a Coppe, seria construir uma malha dutoviária para escoar o petróleo. Hoje, ele é transportado por navios.
“Do ponto de vista tecnológico, temos de transformar os desafios em oportunidades. Temos de fazer da corrida do pré-sal o mesmo que os Estados Unidos fizeram com a corrida espacial. Muitas tecnologias que estão no dia a dia dos americanos e do resto do mundo foram desenvolvidas naquela época (os anos 60 e 70) e ganharam novas aplicações”, afirma Estefen.
O desenvolvimento de fornecedores locais também é uma preocupação. A Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip) estima que, entre 2010 e 2020, o dispêndio (investimentos e gastos operacionais) da Petrobrás e de outras operadoras em exploração e produção, incluindo pós e pré-sal, será de US$ 400 bilhões. A maior parte será destinada à construção de plataformas, sondas de perfuração e navios.
Algumas dessas plataformas já foram encomendadas no exterior, porque os estaleiros brasileiros não poderiam atender à demanda no prazo ou não teriam capacidade para construí-las. Caso da FPSO (sigla em inglês para unidade flutuantes de produção e armazenamento) Angra dos Reis, que tem conteúdo local abaixo de 5% e responde pela produção do campo de Lula, no pré-sal. Ela foi construída na China.
Segundo a Petrobrás, novas unidades de produção estão sendo construídas no estaleiro Rio Grande e poderão atingir conteúdo local de até 75%. Mas a estatal deixa claro que, embora sua política seja de maximização de nacionalização dos projetos, isso não ocorrerá a qualquer custo.
E diz que “se um determinado item ou serviço não tiver no Brasil preço competitivo, qualidade, prazo para atendimento e quantidade suficientes para atender à demanda, será importado”.
Para evitar isso, a Onip está mapeando os gargalos do setor e identificando as oportunidades de nacionalização de componentes. As maiores estão no segmento de navipeças: cem projetos já foram enumerados.
“A fase de exploração dos blocos é de três a cinco anos, e o desenvolvimento da produção leva mais dois a quatro anos”, afirma o superintendente da Onip Luiz Mendonça. “Temos tempo suficiente para a cadeia produtiva se preparar para o pré-sal. Temos de fazer como a Coreia, que não tem uma gota de petróleo, mas exporta para o mundo”.
O setor enfrenta incertezas sobre as novas rodadas de licitação da Agência Nacional do Petróleo (ANP) por causa do impasse na votação sobre os royalties e no marco regulatório do pré-sal. A última rodada foi em 2008.
“As empresas já instaladas no Brasil veem se aproximar o esgotamento de suas áreas e as que se prepararam para entrar no mercado não conseguem oportunidade”, diz Flávio Rodrigues, coordenador do Comitê de Relações Externas do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás.
“O País perde investimentos essenciais e o governo perde receitas que seriam fundamentais para a promoção do desenvolvimento”, acrescenta. Apesar disso, ele diz ter recebido com otimismo o anúncio do governo de que a 11ª rodada ocorrerá em maio de 2013, e a primeira do pré-sal, em novembro de 2013.
Fonte: Estadão