domingo, julho 15, 2012

Petrobras diz não ter pressa na venda de refinaria

No detalhamento da operação divulgado ontem, Petrobrás informa que os US$ 360 milhões pagos em 2006 para adquirir 50% da refinaria incluem estoques no valor de US$ 170 milhões

São Paulo (SP) - Após reportagem do Estado sobre perda significativa de valor da refinaria de Pasadena (Texas, Estados Unidos) desde sua aquisição, iniciada em 2006, a Petrobras informou ontem em nota que não há "obrigatoriedade nem urgência" para se desfazer do ativo. A refinaria é um dos bens que a companhia avalia vender como parte de seu plano de desinvestimento, estratégia para levantar recursos para o pré-sal.

A nota da companhia confirma as informações publicadas na matéria e detalha ainda alguns pontos com informações de documentos oficiais. "O acordo mencionado tornou a refinaria um ativo negociável, ainda que não haja uma obrigatoriedade nem urgência em se desfazer da mesma." O Estado mostrou que a Petrobras gastou, em dois estágios, US$ 1,18 bilhão para adquirir o controle de Pasadena. Em 2005, sua ex-sócia, a trading belga Transcor/Astra, comprou 100% da refinaria por US$ 42,5 milhões. Fontes que participaram do negócio acreditam que, num cenário otimista, a refinaria possa valer hoje US$ 400 milhões. Num cenário pessimista, poderia valer menos de um décimo do que foi investido.

No detalhamento da operação divulgado ontem, Petrobras informa que os US$ 360 milhões pagos em 2006 para adquirir 50% da refinaria incluem estoques no valor de US$ 170 milhões. Segundo o Estado apurou, os documentos oficiais que a Transcor/Astra enviou à bolsa europeia em 2006 mostram que os US$ 42,5 milhões gastos para comprar 100% da refinaria em 2005 também incluíam estoques. Nem Petrobras nem Astra informaram os volumes de estoques envolvidos.

A refinaria tem capacidade para refinar 100 mil barris por dia de óleo leve, e não teve sua capacidade de processamento alterada. No último dia 29, a Petrobras pagou mais US$ 820,5 milhões para encerrar processos judiciais com a Astra e adquirir os outros 50% da refinaria.

Os desentendimentos entre as sócias começaram pois a Petrobras queria dobrar a capacidade da refinaria para 200 mil barris por dia, sendo 140 mil para o pesado óleo do campo de Marlim. O investimento necessário seria de US$ 3 bilhões, já que o maquinário para processar óleo pesado é mais sofisticado e caro.

No anúncio da parceria, em setembro de 2006, Petrobras e Astra anunciaram publicamente intenção de dobrar a capacidade da refinaria e adaptá-la a óleo pesado. A belga, no entanto, desistiu dos planos posteriormente e decidiu exercer seu direito de venda de 50% da refinaria, iniciando processo arbitral que culminou no acordo de US$ 820,5 milhões. Sem o investimento na conversão para óleo pesado, a transação se provou um mau negócio para a Petrobras.

Fonte: O Estado de São Paulo

Estaleiros querem proteção contra inflação

Sinaval se reuniu para discutir a paralisação em dois estaleiros de Niterói

Rio de Janerio (RJ) - A indústria naval pressiona a Petrobras a incluir uma fórmula de reajuste nos contratos de construção de navios de apoio offshore. A proposta, formalizada em carta do Sinaval, entidade que reúne os estaleiros, é que essa fórmula seja aplicada já na licitação para afretamento de navios que instalam e recolhem dutos flexíveis do fundo do mar. O prazo final para entrega das propostas nessa concorrência é dia 27. A expectativa do mercado é que a Petrobras contrate sete embarcações com valor total estimado em US$ 2 bilhões.

A sugestão dos estaleiros é que se for adotada a proposta passe a valer para outras concorrências, disse fonte do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval). A fórmula de reajuste considera a inflação e valeria para a parte nacional de bens e serviços dos navios. A proposta surge em momento em que a indústria naval está pressionada por aumento de custos e por greves em estaleiros de Niterói (RJ).

Sinaval se reuniu para discutir a paralisação em dois estaleiros de Niterói: Enaval e STX OSV. Os trabalhadores querem reajustes de 8% mais aumento de 2% a título de produtividade, disse Edson Rocha, secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos de Niterói e Itaboraí. O pedido de reajuste é o dobro do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) de maio de 2011 a maio de 2012, de 4,86%. Os empregados querem ainda ticket alimentação de R$ 250, 66% acima da média do mercado.

Executivo do setor disse que os contratos de construção de navios offshore não costumam ter mecanismos para cobrir eventuais aumentos de custos não previstos em contratos. A praxe é o preço ser fixado em dólares. O estaleiro recebe 20% adiantados e financia 80%. Já na operação dos navios, em contratos de afretamento de oito anos, uma parcela também é fixada em dólares e outra parte é atrelada ao real e sofre reajustes anuais pelo INPC e pelo IGP-DI.

É um mecanismo semelhante a esse que os estaleiros querem fazer valer para os navios que instalam e recolhem dutos flexíveis, conhecidos como PLSVs (da sigla em inglês, Pipe Laying Support Vessel). A licitação da Petrobras prevê a construção no Brasil de novas embarcações do tipo PLSV com índices de nacionalização que começam em 40% e chegam até 50%. Quem faz as propostas são as empresas de navegação, que contratam os projetos de construção com os estaleiros.

A Petrobras não informa às empresas o número de navios que pretende contratar, mas no mercado fala-se em sete unidades. Considerando o valor médio de US$ 300 milhões por embarcação, chega-se ao total de US$ 2,1 bilhões para o pacote de navios. A concorrência foi dividida em dois lotes de navios para operar em águas com profundidades de até 3 mil metros. O primeiro deles é para contratar "um ou mais" PLSVs com capacidade mínima de tensionamento de 550 toneladas. O outro lote prevê contratar "um ou mais" PLSVs com capacidade mínima de tensionamento de 650 toneladas.

Uma fonte disse que o primeiro navio tem de ser entregue 42 meses após a assinatura do contrato. Se tudo der certo, os contratos seriam assinados até o fim deste ano, o que significa que os navios começariam a ser entregues em 2016. "É difícil fazer um preço hoje para entregar daqui a três anos e meio. É diferente de fazer um navio para entrega em dois anos em que o estaleiro termina assumindo alguns riscos", disse um executivo. Ele afirmou que a inclusão de uma fórmula de reajuste tornaria o preço mais realista e competitivo. Sem essa cláusula, a tendência é que o estaleiro aumente o preço para se proteger de aumentos de custos além do previsto.

Já existem PLSVs em operação no Brasil, mas somente dois navios foram construídos no país a partir de joint venture entre as empresas DOF e Technip. Em 2011, a Petrobras fez outra licitação para PLSVs e terminou contratando a construção no exterior pois não havia espaço disponível nos estaleiros nacionais. Procurada, a Petrobras não se pronunciou.

Fonte: Valor Econômico

Daihatsu vai abrir fábrica de motores de médio e grande porte no Brasil

Um fato histórico para a área marítima está ocorrendo estes dias no Rio. Em cerimônia que contará com a presença do presidente mundial da gigante japonesa Daihatsu, Yoshiro Furukawa, será dada a partida para implantação da primeira fábrica de motores de médio e grande porte para uso em navios e plataformas, após décadas de importação desses produtos.

Na última fase de ouro da construção naval brasileira, nos anos 80, aqui eram produzidos motores MAN pela Mecânica Pesada, em São Paulo e, no Rio, no interior do estaleiro Ishibrás – que está sendo reativado com o nome de Inhaúma- eram fabricados motores Sulzer, Pielstick, Wartsila e o próprio Daihatsu. Com o fechamento quase total dos estaleiros, acabou a produção nacional de motores e, quando eram encomendados navios, os motores tinham de ser importados, pois não havia escala para instalação de uma unidade produtora. Nos últimos anos, com a recuperação do setor, surgiram notícias de muitos grupos interessados em voltar a fazer motores no Brasil, mas só a Daihatsu concretizou os sonhos.

A Daihatsu concedeu licença de produção dos seus motores à empresa Bierges, seu agente em pós-venda no Brasil há mais de 25 anos, e à Caldepinter, empresa especializada em montagens metal-mecânicas que, juntas, sob a denominação de Alfa Diesel Indústria e Comércio de Motores Limitada investirão em unidade industrial em Parada de Lucas, na Avenida Brasil. A gestão comercial e administrativa-financeira caberá a essa duas empresas em sociedade, mas a produção será comandada estreitamente pela Daihatsu, até que a mão de obra brasileira adquira o grau de produtividade requerido pelo empreendedores.

Isso é apenas o início e, para o futuro, se prevê grande crescimento, com mais investimento e ampliação da produção. Em muitos dos 49 navios da Transpetro, barcos de apoio e plataformas, ainda serão usadas unidades da fábrica de Moriyama, no Japão. A partir do terceiro trimestre de 2013, no entanto, começará a sair do forno a produção de motores “Made In Brazil”. E pode ser que isso estimule concorrentes a também se instalarem no país.

A linha de montagem inclui motores estacionários, motores para geração de energia a bordo dos navios e motores de propulsão para navios – como porta-containeres de grande porte. Esta será a única fábrica de motores marítimos de porte da América do Sul.

Para os líderes da construção naval e o presidente do Sindicato da Construção Naval (Sinaval), Ariovaldo Rocha, o fato é emblemático, pois mostra o acerto da política de conteúdo local. Críticos dizem que os estrangeiros iriam continuar a vender motores e peças sofisticadas, deixando como participação nacional em navios e plataformas apenas obras de montagem e produtos semi-acabados. No entanto, a efetiva entrada da Daihatsu no mercado brasileiro prova que, na nova fase de expansão da construção naval, iniciada em 2003, a política de conteúdo local implicará a produção de itens de alto valor, como agora começa a ocorrer com motores.

Fonte: Portos e Navios