quarta-feira, setembro 12, 2012

Força-tarefa para formar engenheiros qualificados

Quantidade e qualidade são os principais desafios que o Brasil deve enfrentar nos próximos anos quando o assunto é a formação de engenheiros. Com altas estimativas de demanda e pouca oferta de mão de obra qualificada, muitas instituições de ensino já apostam na criação de cursos para esses profissionais. Agora, é a vez de organizações sem fins lucrativos como o Instituto de Engenharia e o Sindicato dos Engenheiros de São Paulo também investirem na formação da área.
De acordo com um estudo publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Brasil precisará formar, até 2020, 95 mil engenheiros por ano para sustentar um crescimento econômico anual por volta dos 4% (uma expansão de 2,5% exigiria mais de 70 mil engenheiros por ano). Pelo mais recente levantamento da Associação Brasileira de Ensino de Engenharia (Abenge), o número de formandos na área em 2010 foi de 41 mil.

O déficit de engenheiros, no entanto, não é o único dado que se destaca no levantamento. Ainda segundo o Ipea, menos de 30% dos formados em engenharia em 2008 saíram de universidades consideradas de alto desempenho, com conceito 4 ou 5 no Ministério da Educação (MEC). A maior parte dos graduados (42%) formou-se em instituições com conceito 1 ou 2.
Especialistas concordam que a graduação em engenharia, mesmo nas escolas mais renomadas, ainda não oferece o tipo de conhecimento de gestão e negócios que o mercado exige hoje. “Existe uma diferença entre o que as empresas precisam e o que a universidade ensina”, diz Denise Retamal, diretora executiva da consultoria de recrutamento Rhio’s, especializada nas indústrias de mineração, petróleo & gás, energia, construção civil, engenharia e infraestrutura. Para a consultora, o que mais falta atualmente são profissionais que aliem conhecimento em uma especialidade e experiência no mercado, além de visão estratégica de negócios e idiomas estrangeiros.
Para Vanderli Fava de Oliveira, diretor de comunicação da Abenge, só agora os cursos de engenharia estão começando a perceber a necessidade de transmitir aos profissionais habilidades relacionadas à gestão. “As escolas estão verificando que, além de formar a base tecnológica, precisam também ensinar a gerir essa tecnologia”, explica.

De acordo com Oliveira, a velocidade com que as técnicas ficam obsoletas cria não só a necessidade de se manter atualizado constantemente, mas torna fundamental saber administrar a tecnologia – e não apenas usá-la. “O que falta é negócio, é como ganhar dinheiro com engenharia”, simplifica Hélio Guerra, presidente da Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia (FDTE) e ex-reitor da Universidade de São Paulo (USP).
Dessa demanda surgiu a Escola Superior de Negócios em Engenharia (Esne), fruto de uma parceria do Instituto de Engenharia, organização sem fins lucrativos fundada em São Paulo em 1916, e a FDTE, organização criada por Guerra e um grupo de professores da Escola Politécnica da USP nos anos 1970. Com aulas iniciadas em agosto, a escola oferece cursos de extensão em negócios públicos e privados em engenharia. Os temas abordados incluem gestão de projetos, legislação, finanças e análise de risco. “São assuntos que não são vistos na graduação”, diz Guerra. Os programas são voltados para engenheiros que já possuem experiência e buscam se capacitar para assumir cargos de liderança, além de profissionais de outras áreas que participem de projetos.

Já o Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (Seesp) resolveu focar na graduação para lidar com os desafios de qualidade na formação em engenharia. No fim de 2009, começou a desenvolver o projeto do Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec), fundado no ano passado. Com sede em São Paulo, começa neste semestre a promover cursos de extensão em áreas específicas como propriedade intelectual e gestão ambiental. Mas o grande projeto virá no ano que vem, quando a instituição começará a oferecer um curso de graduação em engenharia da inovação. “Vimos que a necessidade de profissionais que podem contribuir para o desenvolvimento de inovação de produto e de processo seria um gargalo para qualquer projeto de desenvolvimento do país”, diz Antonio Octaviano, diretor-geral do instituto.
O curso pretende ter uma base mais generalista do que os outros cursos de engenharia. “O profissional precisa ter um perfil diferente tanto do que tínhamos antes quanto do que ainda formamos, que é o do engenheiro ultraespecializado”, explica.

Com a intenção de desenvolver uma relação permanente com o mercado, o currículo do curso se concentra em gestão, abrange áreas como a comunicação e quer promover a participação de professores visitantes de outros países. A decisão de focar a atuação do instituto na graduação veio da necessidade de formar um profissional mais flexível, capaz de transitar entre diferentes áreas – demanda que os idealizadores viram no mercado. “A evolução técnica é muito intensa. É preciso ter a competência para transitar em diferentes áreas com mesma qualidade.”

Fonte: Valor Econômico

Concorrência da Petrobras agita construção naval

Uma encomenda da empresa número um do país está agitando os meios empresariais. Ao lançar concorrência para construção de cinco sofisticados barcos lançadores de tubulações, a Petrobras não fez licitação restrita ao mercado local, mas abriu a disputa ante o mercado internacional. A decisão preocupa não só líderes da construção naval, como da indústria fornecedora, pois, com um navio, são feitas encomendas de parafusos, artefatos de borracha, móveis de madeira, escotilhas e motores – todos comprados pelos estaleiros no mercado interno.
A dor de cabeça dos empresários é mais intensa diante da situação mundial. Na Europa, a taxa de desemprego é crescente, especialmente entre os jovens, o que enfraquece os governos locais. Na Ásia, não só China, Coréia e Japão têm alta produtividade, como recebem subsídios que nenhuma entidade internacional consegue aferir com exatidão. É difícil competir com europeus e asiáticos nesse momento. Cada navio lançador de tubos tem custo unitário estimado em US$ 300 milhões, o que significaria, a grosso modo, encomenda de US$ 1,5 bilhão que tanto pode ficar no mercado interno como ser feita em nação distante da Ásia ou em subsidiado estaleiro europeu.
A preferência do Governo Federal por obras no Brasil tem sido contestada por grande número de políticos e economistas. No entanto, a principal resposta da indústria é a de que o sobrecusto nacional não pode ser medido isoladamente, mas teria de ser visto de forma ampla. Um metalúrgico empregado deixa de requerer seguro-desemprego, Bolsa Família e, possivelmente, pode sair da fila do INSS para usar plano de saúde privado. Além disso, a maior demanda por trabalhadores na última década fez com que fosse ampliada a oferta de cursos técnicos, o que aumentou a capacitação dos profissionais do setor.
No início da gestão de Dilma Rousseff, houve preocupação com excesso de encomendas para a construção naval, mas os dirigentes do setor citam que o grande número de novos projetos já iniciados afasta essa possibilidade. Para analistas do setor, a decisão final é mais política do que econômica. Nos Estados Unidos, centro do capitalismo mundial, não se permite capital estrangeiro em empresas de telefonia. Para os norte-americanos, as empresas de navegação de cabotagem precisam ter capital local, quando, no Brasil, empresas brasileira de capital estrangeiros têm todos os direitos.

Fonte: Monitor Digital