divisão da indústria do petróleo do Sudão em norte e sul vem se tornando um desafio parecido com o de separar gêmeos siameses, fato que vem deixando os chineses com interesses no país desconfortáveis, na hora em que se prepara a secessão.
Os resultados finais divulgados ontem mostraram que quase 99% dos 3,9 milhões de eleitores do sul do país votaram pela separação do norte, muçulmano e de liderança árabe, no plebiscito realizado em janeiro.
O resultado deverá significar o surgimento de um independente Sudão do Sul em 9 de julho, depois de cinco décadas de uma guerra civil intermitente.
Entre as muitas questões que o norte e o sul terão de negociar até lá – como os direitos de cidadania e suas moedas -, a do petróleo está entre as mais complicadas. Um acordo de divisão da riqueza proporcionada pelo petróleo, incluído em um acordo de paz firmado em 2005, deverá expirar em julho.
As receitas com a produção de petróleo, estimada em 500 mil barris por dia, são muito importantes para o norte e o sul. Os dois lados precisam decidir como vão dividir três blocos de produção que transpõem a fronteira, e administrar contratos, infraestrutura, funcionários, dívidas com petróleo e sistemas tributários.
A estatal de petróleo chinesa CNPC tem uma participação de 40% nesses blocos, através do consórcio Greater Nile Petroleum Operating Company (GNPOC), na qual a Petronas da Malásia tem uma participação de 30%, a indiana ONGC Videsh possui 25% e a companhia estatal sudanesa Sudapet tem os restantes 5%.
"Retalhar o consórcio GNPOC ao longo da fronteira poderá ter consequências terríveis para todas as partes envolvidas", disse um relatório feito pela rede de pesquisas European Coalition on Oil in Sudan, intitulado "Como Separar Gêmeos Siameses".
Um funcionário graduado da CNPC disse ao "FT" que as companhias do GNPOC querem que o contrato atual continue inalterado, com os blocos sendo administrados por uma joint venture formada entre os dois novos Estados.
A perfuração e outras atividades já envolverão o cruzamento diário da fronteira, disse o funcionário. "A pior coisa para as joint ventures é separar completamente as coisas", acrescentou ele. "É muito fácil falar sobre a superfície, mas muito difícil falar sobre o que está abaixo da superfície. É impossível saber quanto existe no sul e quanto existe no norte."
Há também dúvidas sobre os planos de construção de um oleoduto no sul, defendido pelo partido que está no poder, o Movimento de Libertação do Povo do Sudão, como meio de libertar a região da dependência da infraestrutura do norte.
A produção dos campos relevantes deverá atingir um pico no ano que vem, e estes poderão secar dentro de 15 anos, disse o funcionário da CNPC. "Se o governo do sul quiser construir um oleoduto, isso levará muito tempo e onde está o financiamento?"
Sob o acordo atual, o norte e o sul dividirão igualmente as receitas. Mas o sul há muito afirma que vem recebendo pouco dinheiro e o vice-presidente Riek Machar, que está encarregado das negociações para o sul, disse ao "FT" que o sul tentará obter um pagamento retroativo se obrigações não cumpridas surgirem. A Lei do Referendo prevê a negociação de contratos de petróleo em qualquer cenário pós-referendo, embora o sul tenha tentado até agora garantir aos investidores que vai honrar os contratos pré-2005.
A China, que há muito tempo vem sendo criticada por seus laços próximos com Cartum, também se movimentou rapidamente para se mostrar receptiva ao sul independente, depois de apoiar anteriormente a unidade do país.
"O petróleo é um pilar da economia – todo mundo depende dele e nós esperamos que as diferenças entre o norte e o sul sejam resolvidas, para que isso não afete a produção", disse Zhang Jun, cônsul da China para assuntos econômicos em Juba, a capital do sul. "Para isso, precisamos de cooperação."
Fonte:
http://navalbrasil.com/