Para segurar os melhores, Petrobras vai reformular plano de retenção de talentos.
Cláudia Schüffner e Fernando Torres
O atual CEO da HRT Marcio Mello, ex-funcionário da Petrobras, recebeu a maior remuneração paga pela companhia em 2010
Maior fornecedora de mão de obra para as empresas nacionais e estrangeiras que operam no setor de óleo e gás no Brasil, a Petrobras está reformulando seu programa de retenção de funcionários. Com 77 mil colaboradores próprios e um exército de 295 mil empregados de suas prestadoras de serviços, a estatal enfrenta dilemas por ser uma companhia pública de capital misto - e não se sente confortável com o assunto no momento.A primeira diferença entre ela e as organizações privadas é a impossibilidade de escolher seus funcionários, já que eles entram por concurso público. Um dos atuais desafios da maior empresa do Brasil - com valor de mercado de R$ 319 bilhões - é a perda de pessoal com mais tempo de casa, alguns a poucos anos da aposentadoria.
A Petrobras informa que não tem regras específicas para o desligamento de executivos com acesso a informações confidenciais e que os contratos de trabalho não preveem quarentena. Se por um lado os diretores da estatal são os que administram mais recursos e o maior portfólio de ativos, por outro são os menos remunerados na comparação com seus pares no Brasil e no exterior. Um executivo da Petrobras contou que a empresa paga até 17 salários por ano, considerando o 13º e 14º salários, PLR e bônus, mas empresas novatas como a OGX e a HRT são campeãs de remuneração.
No ano passado, a Petrobras pagou R$ 8,175 milhões para sua diretoria executiva. O maior valor em 2010 chegou a R$ 1,2 milhão, equivalentes a US$ 728 mil, pagos ao presidente José Sergio Gabrielli. Cada diretor recebeu R$ 1,149 milhão (US$ 691 mil). É bem menos do que faturaram diretores da OGX, HRT e executivos do board de multinacionais como Repsol, Shell e BG. Foi o que mostrou uma pesquisa do Valor com base nos salários, pagos em seus países de origem, à diretoria das grandes empresas que operam no Brasil.
Na amostra, apenas a ExxonMobil, maior companhia de petróleo do mundo entre as de capital aberto, e a Chevron pagam mais do que a OGX (veja quadro). Em 2010, a organização controlada por Eike Batista remunerou seu principal executivo - Paulo Mendonça, ex-gerente executivo de exploração da Petrobras e hoje presidente da OGX - com R$ 19, 7 milhões, equivalentes a US$ 11,8 milhões. O valor supera os rendimentos dos diretores da espanhola Repsol, das britânicas BG e BP e da norueguesa Statoil.Os salários da HRT não ficam atrás. O valor mais alto pago pela empresa no ano passado foi de R$ 9,1 milhões, provavelmente para seu presidente, o geofísico Marcio Mello, também ex-funcionário da estatal brasileira.
A Petrobras tem a seu favor a estabilidade dos funcionários e vários benefícios para os iniciantes e de cargo médio. A lista de ex-funcionários que hoje ocupam o topo da hierarquia das empresas de Eike Batista - além da OGX ele controla a MPX e OSX nas áreas de energia e construção naval - é grande. A HRT informa para investidores que tem 52 ex-funcionários da estatal em seus quadros. Alguns colaboradores que deixaram a organização nos últimos anos contam que havia um programa de retenção apelidado informalmente de "algema de ouro", mas a companhia não confirma.
"Os empregados da Petrobras têm oportunidade de progressão na carreira nos padrões do mercado de trabalho através de um sistema corporativo de gestão de desempenho, em que os objetivos estratégicos são desdobrados em metas individuais e de equipes. Anualmente, os empregados são avaliados conforme o atendimento de suas metas e competências, resultando em avanço na carreira e ganho salarial", informou a Petrobras, em nota.
"Para as carreiras técnicas, há a função especialista, destinada à retenção de empregados que detenham conhecimentos, habilidades ou domínio de tecnologias e métodos, e que apresentem alto desempenho técnico", continua a nota. "A companhia dispõe de remuneração variável baseada nos resultados de sua operação e o montante distribuído aos empregados, a título de Participação nos Lucros e Resultados (PLR), através de um processo de negociação com as entidades sindicais".
Uma fonte explicou ao Valor que, na reformulação do plano de carreiras que está em curso, a Petrobras estuda um modo de reter funcionários com perfil profissional considerado estratégico. Os critérios serão definidos pela diretoria e haverá um determinado número de vagas.
Na OGX, a política de retenção de talentos prevê pagamento de remuneração variável em complemento ao salário fixo mensal, negociada caso a caso. Segundo a empresa, a parte variável pode incluir bônus anual de acordo com o cargo e opções de ações que podem vir direto do controlador, ou seja, de Eike Batista, ou da própria companhia. O prazo médio para que o executivo tenha o direito de exercer as opções é de sete anos. "Tais valores não são pré-determinados e variam conforme o contrato do colaborador na ocasião de sua admissão", explica a OGX.
A HRT também tem um plano de incentivo e de outorga de opções de ações. "Para retenção dos seus profissionais, a HRT aposta nos desafios oferecidos pela empresa, no ambiente de trabalho e em um pacote de salários e benefícios compatível com o mercado de petróleo e gás", informa a empresa.
Fonte: http://www.administradores.com.br