Apesar das atenções internacionais se voltarem para o México, como economia mais promissora para investimentos na América Latina, a GE segue apostando suas fichas no Brasil. O presidente do grupo na região, Reinaldo Garcia, disse ao Valor não ver alteração desse cenário nos próximos anos.
“Nós vemos o Brasil como país altamente estratégico em todos os aspectos. É um dos mais ricos no mundo em recursos naturais, além de ter um grande mercado interno”. De acordo com o executivo, o país responde por quase metade da operação industrial na região – o braço financeiro GE Capital tem pouca atuação no país.
Sobre investimentos, Garcia não fala em valores totais para a América Latina, mas garante que a fatia majoritária dos projetos está no Brasil. Somente na construção de um centro global de pesquisa no Rio de Janeiro, a empresa vai investir R$ 500 milhões. Será o quinto da GE no mundo. Outros quatro estão na China, Índia, Alemanha e Estados Unidos.
A divisão que vem recebendo mais aportes por aqui é a de petróleo e gás. Não à toa o centro global de pesquisa será instalado no Rio e com um laboratório específico para esse setor. Enquanto no mundo a área de petróleo responde por cerca de 10% do faturamento da GE, no Brasil esse percentual oscila entre 20% e 30%, diz Garcia.
Desde 2011, a companhia investiu mais de US$ 12 bilhões em aquisições na área de petróleo no mundo, além de investimento nas operações de Macaé (RJ) e Jandira (SP), que foram ampliadas. O presidente de petróleo e gás para América Latina, João Geraldo Ferreira, sinalizou que as aquisições teriam uma pausa. Mas Garcia diz ver a situação de forma diferente. “Não diria que a empresa parou, estamos confortáveis com o portfólio que temos, mas continuamos atentos às oportunidades.”
O executivo faz questão de ressaltar, contudo, que a GE vem reforçando todas as divisões no país. Ele citou a aquisição da fabricante mineira de equipamentos médicos XPRO. A transação – realizada neste ano, sem valor revelado – tem importância estratégica para a divisão de Healthcare, ao complementar o portfólio com produtos adequados ao mercado brasileiro. “É uma plataforma que adquirimos aqui no Brasil e que podemos levar ao resto do mundo.”
A GE está expandindo também a atuação em segmentos em que tinha participação menor no Brasil, como mineração – que ganhou importância na estrutura mundial da empresa, após ser elevada à condição de unidade específica de negócios – e iluminação.
Nesse segundo departamento, a GE havia se desfeito de uma fábrica de lâmpadas fluorescentes no Rio, em 2008. A estratégia agora é focar na tecnologia de LED e abrir uma nova linha de montagem no país. Garcia afirma que a empresa ainda espera sinalizações mais claras a respeito de futuras licitações para mudar o sistema de iluminação pública nas cidades. “É uma tecnologia muito superior e quando se fala isso para o setor público, todo mundo acha sensacional.”
O executivo afirma que uma definição sobre essa unidade certamente não acontecerá mais neste ano. “Mas em breve teremos mais novidades em outros setores”, afirmou, sem abrir mais detalhes. A companhia vem falando em possibilidades na divisão de transportes. Além da ampliação da capacidade em Contagem (MG), a GE tem estudado construir novas fábricas de locomotivas no país. Com forte presença mundial em soluções para transporte de cargas, a empresa enxerga o potencial de expansão logística no país.
“A falta de infraestrutura, dado o nível de atividade econômica, é um problema bom”, avaliou o executivo, fazendo alusão ao que foi discutido em evento promovido pela GE sobre a competitividade no Brasil. Ele avalia positivamente o esforço do governo federal em incentivar investimentos e reduzir custos produtivos. Mas pondera que as medidas seriam melhor implementadas se houvesse mais consultas com as empresas antes de serem definidas.
Mesmo com uma representatividade pequena ante o desempenho mundial da GE, o Brasil é chave na estratégia recente de crescimento do grupo. A receita global da GE vem caindo nos últimos anos: era de US$ 154 bilhões, em 2009, e ficou em US$ 147 bilhões em 2011. Ainda assim, a empresa conseguiu manter a elevação na linha final de seu balanço.
O caminho para alcançar esse resultado foi racionalizar as operações e avançar nos mercados em desenvolvimento. Enquanto o faturamento nos Estados Unidos, seu principal mercado, caiu de US$ 75,8 bilhões, em 2009, para US$ 69,8 bilhões em 2011, nas Américas, que se resume essencialmente à América Latina, o faturamento foi de US$ 11,3 bilhões para US$ 13,2 bilhões.
Fonte: Valor Econômico