Quando ficou sabendo que havia sido preso “o primeiro pirata do Brasil”, o fotógrafo curitibano Alvir Reichert Júnior, de 39 anos, não associou o título à sua pessoa.
Não por engano ou coincidência, horas antes, na manhã da segunda-feira de 25 de agosto de 2003, um grupo armado invadiu sua casa. “Sabemos quem você é!”, gritavam, com metralhadoras em mãos. Depois de poucas explicações, dois computadores e um gravador de CDs apreendidos, Reichert foi levado para a delegacia, onde ficou encarcerado por sete dias.
Alvir conta o caso com voz tremida, nervosa. Cada detalhe, diz ele, está fresco em sua memória, pois, a partir dali, sua vida sofreria uma reviravolta. “Esses seis anos acabaram com minha vida”, diz hoje, quando conseguiu ser absolvido da condenação por meio de uma sentença dada pela juíza da 1ª Vara Criminal de Curitiba, Elizabeth Nogueira Calmon de Passos.
Ele era um dos membros e colaboradores do site MP3 Forever, uma espécie de ‘clube do disco pirata’ em que os membros expunham listas de Excel com os álbuns que possuíam e trocavam CDs copiados, por correio.
Sua prisão foi a primeira após a mudança na lei de direitos autorais, nº 10.695, sancionada em 1º de julho daquele ano pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e que entrou em vigor no dia 2 de agosto. Segundo o texto, a condenação poderia ser de até quatro anos.
Reichert era réu primário e pôde ser solto em uma semana, assim que sua família pagou uma fiança de 20 salários mínimos. No início, o pedido era de 200 salários mínimos.
Mas, para ele, a semana em que dormiu de pé dentro de uma cela lotada não foi a pior parte do que julga ser um pesadelo. Pelos anos seguintes, Reichert diz que enfrentou maus tratos de pessoas próximas e não conseguiu mais nenhum emprego, sendo obrigado a viver de doações.
“Alguns familiares diziam que não sabiam o que eu fazia, que eu era pirata. Na hora de pedir emprego, os conhecidos lamentavam que não podiam me dar serviço por causa do meu nome”, conta.
O isolamento se estendia a outras partes do seu antigo círculo social, como membros do site MP3 Forever e outros colegas. “Muitos deles não respondiam meus e-mails, pois tinham medo que fosse alguém da polícia”, diz o curitibano.
Além de não conseguir mais trabalhos como freelancer, Reichert conta que foi obrigado a pagar alguns trabalhos encomendados com o próprio bolso, pois devido à apreensão de seu material, perdeu todos os arquivos.
“O absurdo é que na época divulgaram na TV que eu tinha mais de 76 mil reais na conta. Eu não tinha mais que duzentos reais”, fala.
Pai de dois filhos, Reichert se arriscou em um pequeno negócio no ramo de confecções, que não vingou. Atualmente, ele vive de construir alguns sites e torce para que a lei que o condenou sofra alguma alteração.
“Eles deram o tiro errado. Esta lei tem que mudar. Se continuar assim, nem imagino o que possa acontecer”, declara. E completa: “Agora posso começar a vida de novo”.
Fonte: http://info.abril.com.br/