Pesquisadores americanos descobriram uma maneira de bloquear lembranças que causam medo, abrindo caminho a novos tratamentos para stress.
As descobertas se basearam em estudos preliminares com ratos, os quais mostraram que reativar a memória (exibindo objetos que estimulam uma lembrança desagradável, por exemplo) abre uma "janela no tempo" específica por meio da qual as lembranças podem ser editadas antes de serem armazenadas novamente.
"Antes de que as lembranças sejam armazenadas, existe um período durante o qual elas ficam suscetíveis e podem ser eliminadas", explicou Elizabeth Phelps, da Universidade de Nova York, que publicou a pesquisa no jornal Nature.
Estudos anteriores haviam revelado que drogas podem ser usadas para bloquear lembranças desagradáveis, mas os efeitos não duravam muito tempo.
Phelps e seus colegas basearam sua pesquisa em análises de ratos segundo as quais lembranças podem ser modificadas, mas apenas durante um período específico após os ratos terem sido expostos a objetos que estimulam a memória.
Essa "janela de suscetibilidade" surge normalmente entre 10 minutos após à exposição a estímulos da memória e seis horas mais tarde, quando o cérebro novamente guarda a lembrança.
Os pesquisadores em seguida aplicaram essas descobertas em pessoas. Primeiro, eles criaram uma lembrança desagradável, mostrando aos voluntários um quadrado azul e então lhes submetendo a um choque leve.
Depois de criarem a memória incômoda, simplesmente exibiam novamente o quadrado azul, que estimulava a lembrança do choque.
A equipe esperou 10 minutos e começou o "tratamento", mostrando o quadrado azul repetidamente aos voluntários sem lhes aplicar o choque.
Phelps explicou que a espera de 10 minutos para o início do tratamento influenciou muito na eficácia da eliminação da lembrança desagradável.
Um segundo grupo de voluntários que receberam o tratamento antes do final do intervalo de 10 minutos continuaram apresentando comportamento medroso e incomodado quando foram expostos ao quadrado azul.
Quando os pesquisadores reviram os voluntários após um ano, o grupo que recebeu o tratamento adequadamente não apresentou nenhum tipo de receio em relação ao quadrado azul. Mas os que não haviam sido submetidos ao tratamento tiveram uma reação nervosa.
Phelps ressaltou que um importante aspecto do estudo é identificar o período específico durante o qual o cérebro está suscetível.
Ela explicou que essas são as primeiras descobertas do tipo em seres-humanos e alertou que elas ainda não devem ser usadas para tratar pessoas com sérios problemas de ansiedade.
"Fizemos um teste com um quadrado azul e um choque leve. Mas lembranças realmente desagradáveis são muito mais complexas e intensas do que isso", esclareceu Phelps.
Entretanto, a pesquisadora afirmou que a descoberta cria a possibilidade de desenvolver tratamentos para ajudar as pessoas a superar dificuldades emocionais.