SÃO PAULO - Em algum dia nas próximas semanas, o paraquedista Felix Baumgartner vai saltar de um balão a 36 quilômetros de altitude. Ele pretende ser o primeiro ser humano a superar a velocidade do som em queda livre, além de bater três outros recordes. Para isso, vai suportar temperaturas de até 56 graus negativos e uma pressão tão baixa que poderia fazer seu sangue ferver. Um balão estratosférico e uma roupa especial devem garantir sua sobrevivência.
Baumgartner, que é austríaco e tem 41 anos, é conhecido pelos saltos espetaculares que faz. Em 1999, ele saltou da mão do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. Ele planeja o salto da estratosfera desde 2005. Além da maior velocidade em queda livre (1 277 km/h), o paraquedista busca as marcas de maior altitude de salto (36 580 metros) e maior tempo em queda livre (5 minutos e 35 segundos). Será, também, o mais elevado voo de balão tripulado já realizado. A 36 quilômetros do chão, quase não há oxigênio. A temperatura chega a 56 graus negativos e a pressão é tão baixa que o ponto de ebulição da água cai a 36,6 graus. Nessas condições, ele morreria em menos de 10 segundos. O segredo para sair inteiro está no equipamento.
Uma equipe de 60 pessoas cuidou de cada detalhe do projeto. O brasileiro Ricardo Varela Corrêa ficou responsável pela plataforma de lançamento. “Quando o balão estiver cheio de hélio, ele terá 300 metros de diâmetro”, diz Corrêa, que é doutor em computação científica. Por 11 anos, ele dirigiu o lançamento de balões no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). “Eles custam 500 000 dólares cada e levam seis meses para ser fabricados”, diz.
Durante a ascensão, Baumgartner ficará numa cápsula de fibra de vidro. Nela, a temperatura e a pressão estarão garantidas. Ao saltar, porém, tudo o que vai separá-lo da morte serão o macacão pressurizado e o capacete. Ambos foram fabricados pela empresa David Clark, que desenvolve trajes espaciais para a NASA. “É uma roupa parecida com a que é usada pelos militares em aviões de grande altitude”, explica Mike Todd, engenheiro responsável pela segurança do traje. “A diferença é que os pilotos ficam sentados. No nosso caso, a roupa é feita para uso em pé. Há juntas nos ombros e nos joelhos, o que a torna mais flexível”, diz.
A roupa deverá manter a pressão constante, apesar da enorme variação de altitude durante o salto. Também vai fornecer oxigênio ao paraquedista. Como o salto vai durar menos de 10 minutos, sua construção é mais simples que a dos trajes espaciais. “Usamos um tecido que permite que a umidade saia, mas impede a entrada de vento. Esse sistema mantém a temperatura do corpo”, explica Todd. Já o capacete, feito de fibra de vidro, tem visor aquecido para evitar o congelamento.
A roupa e o sistema triplo de paraquedas foram aprovados em mais de 30 saltos de teste. Agora, a equipe entra na reta final para o grande voo, que deve acontecer em junho ou julho. O local e a data dependem das condições climáticas. Mas é provável que seja na região de Roswell, no estado americano do Novo México. Como o pouso será no deserto, Baumgartner vai carregar três aparelhos de GPS para que possa ser localizado. Por garantia, ele também vai levar um gadget infalível para chamar a atenção da equipe de resgate: um pequeno espelho de bolso.
Fonte:
http://info.abril.com.br/