Alexandre Gartner, diretor de pesquisa do HSBC: percepção de que ações do mercado mexicano ficaram caras em comparação aos papéis brasileiros
São Paulo (SP) - O fluxo de capital externo para a Bovespa no ano, até 20 de dezembro, totalizava pouco mais de US$ 630 milhões, o que enseja para 2012 o menor volume desde 2008. Os investidores direcionaram recursos para outros países como o México, mas a expectativa dos analistas para 2013 é de retorno dos estrangeiros para o Brasil. O rebalanceamento prevê a redução das posições em México, mercado agora considerado caro, e aumento das apostas nas ações brasileiras.
O Bank of America Merrril Lynch publicou relatório alterando a recomendação para Brasil para acima da média do mercado ("overweight") e do México para neutro. O HSBC está com indicação de "overweight" para Brasil e neutro para México. A americana BlackRock, maior gestora de fundos de investimento global, mantém posição comprada em Brasil em relação à média do mercado e está neutra em México nos portfólios voltados para América Latina.
"O Brasil representa cerca de 64% da nossa carteira, enquanto a participação no índice de ações da região está em 58%", afirma Will Landers, gestor dos fundos de renda variável para a América Latina.
Segundo calcula o diretor de pesquisa do HSBC, Alexandre Gartner, o mercado de ações mexicano está mais caro que o brasileiro. Enquanto a bolsa do México negocia a uma relação preço/lucro (indicador utilizado para medir o tempo de retorno de um investimento) de 17 vezes, o múltiplo da bolsa brasileira está em 10 vezes. "O múltiplo da bolsa mexicana sempre foi superior ao da bolsa brasileira, mas essa diferença se ampliou neste ano".
A bolsa mexicana acumula alta de 25,4% no ano, enquanto a brasileira cai 2,05% em dólar, considerando o fechamento de ambos os mercados ontem.
A previsão de um cenário mais positivo para a bolsa brasileira no ano que vem está relacionada à expectativa de crescimento maior da economia e, consequentemente, dos lucros das empresas. Na conta também está um cenário mais favorável de expansão da atividade econômica da China, que tende a beneficiar empresas brasileiras exportadoras de commodities. O HSBC, por exemplo, prevê crescimento de 8,5% para a economia chinesa em 2013.
O real mais desvalorizado também deve contribuir para o aumento das receitas das empresas exportadoras. Hoje o dólar é cotado na casa de R$ 2,05.
Além disso, o cenário internacional parece mais favorável no ano que vem. "A Europa tem mostrado sinais de que está indo bem e acredito que os Estados Unidos devem chegar a uma solução para a questão fiscal", diz Rodrigo Moliterno, diretor da Fator Corretora.
O corresponsável pela área de corretagem e análise de ações do Credit Suisse na América Latina, Emerson Leite, afirma que os investidores estrangeiros começam a considerar um aumento da alocação de recursos em ações brasileiras. "Temos visto alguns clientes estrangeiros interessados em comprar boas histórias na bolsa, inclusive em aberturas de capital." A corretora do Credit Suisse estima crescimento de lucro das empresas que fazem parte do Ibovespa entre 10% e 15% em 2013 e vê oportunidades em setores ligados à economia doméstica e no segmento de bancos, um dos que mais sofreram com a interferência do governo. A casa alterou a perspectiva para esses papéis de negativa para neutra.
Já a BlackRock vê oportunidades nas "blue chips" que, conforme calcula a área de gestão, estão com preços descontados. "Estamos com posição acima da média do mercado em Bradesco e também em Vale", diz Landers. Apesar da forte valorização neste ano, o gestor acredita que ainda há oportunidade no setor de varejo. Hoje, a maior posição comprada em ações brasileiras em relação ao índice é na concessionária de rodovias CCR. "Gostaria de ter mais investimento em infraestrutura no Brasil, mas faltam papéis", afirma Landers.
A decepção com o fraco desempenho do PIB brasileiro, que deve encerrar o ano com expansão de 1%, e a interferência do governo em alguns setores como bancos, petróleo e energia, fizeram com que os estrangeiros resgatassem parte dos recursos aplicados em ações brasileiras e em recibos de ações (ADRs, American Depositary Receipts) na bolsa americana. A aplicação líquida de estrangeiros nesses papéis estava negativa em US$ 301 milhões no ano, até novembro.
O volume financeiro médio diário com ADRs brasileiros caiu 26% em relação à media registrada no ano passado, passando de US$ 2,727 bilhões para US$ 2,015 bilhões, menor nível desde 2009. Isso fez com que o índice que acompanha o desempenho dos ADRs brasileiros acumulasse queda de 10,54% até novembro, terceira pior performance entre os índices de ADRs da América Latina.
Para o BofA Merrill Lynch, o barulho da intervenção governamental no Brasil deve diminuir, "ou ao menos já está precificado na maioria dos setores". O BofA acrescenta que, apesar de um forte 2012, espera outro bom ano para a infraestrutura. "À medida que os governos tentam estimular o crescimento, novos projetos devem começar a ser desenvolvidos e novas concessões devem ser positivas para ações no Brasil e no México" escrevem os analistas Felipe Hirai, Marina Valle, Stephen Suttmeier e Marcos Buscaglia em relatório.
O gestor da BlackRock também acredita que as medidas adotadas devem ter efeito positivo para a economia no final das contas, reduzindo o chamado "custo Brasil" e incentivar os investimentos. "A comunicação desses movimentos não foi feliz, mas a meta está certa", afirma Landers.
Fonte: Valor Econômico