SC se firma como fornecedora de embarcações de apoio marítimo
Itajaí – No estaleiro Navship, pertencente ao grupo norte-americano ECO (Edison Chouest Offshore), o planejamento anual prevê a entrega de uma nova embarcação para serviços em alto mar a cada três meses, até 2017. No estaleiro da singapuriana Keppel Sigmarine, recém-chegada ao Estado, a meta é produzir até oito navios do mesmo segmento por ano. O fundo de investimentos P2 Brasil, formado pelas empresas Promon e Pátria, deve chegar este ano ao Estado, com recursos da ordem de US$ 138 milhões para a construção de um novo estaleiro, também voltado às embarcações e módulos que suportam as operações de extração de petróleo e gás no País. Com essas encomendas e investimentos, o setor de construção naval de Itajaí e Navegantes consolida, em 2012, sua posição na indústria nacional e internacional, como centro de referência nesse tipo de equipamento.
São embarcações com até 80 metros de comprimento, em média, responsáveis por transportar peças, suprimentos e funcionários para plataformas de petróleo e gás ou próprias para operações delicadas, como reboques de plataformas em alto mar, recolhimento de imensas âncoras, recolhimento de óleo em caso de acidente ambiental ou operações de instalação ou recolhimento de equipamentos em plataformas. Navios que contam, também, com muito mais tecnologia embarcada, o que tem exigido uma mão de obra cada dia mais qualificada. Nada dos simples cascos de aço ou de madeira, que há muito tempo fizeram surgir as primeiras empresas do setor.
As antigas carreiras de madeira, construídas pelos pioneiros, para colocar barcos de pesca na água barrenta do rio Itajaí-açu, também estão dando lugar a modernos sistemas de lançamento, galpões de alta tecnologia e até a diques flutuantes – uma espécie de barco capaz de levar outro barco para a água -, que até bem pouco tempo eram raros no Brasil e em Santa Catarina.
SC acompanha crescimento brasileiro
O executivo da ECO, Sérgio Bacci, diz que o bom momento e a consolidação da posição de Santa Catarina acompanha o crescimento da indústria naval brasileira e o desenvolvimento do setor de petróleo e gás, que vive uma verdadeira revolução, desde o anúncio da descoberta das reservas do Pré-Sal. “O governo tomou a decisão de investir nesse setor, a partir de 2003 e agora estão sendo colhidos os primeiros frutos”, comemora.
A unidade da ECO em Navegantes foi a primeira do grupo fora dos Estados Unidos. Uma aposta da empresa para abocanhar uma fatia do mercado de apoio marítimo, a partir de 2006. A empresa constrói as embarcações, que são operadas por outras empresas do grupo, como a Bram Offshore, para o cumprimento de contratos com as gigantes do setor de óleo e gás, como Petrobrás, OSX e Chevron.
Segundo Bacci, as chances de o estaleiro operar de outra forma, construindo para outras empresas, por exemplo, são remotas, devido ao número de contratos em curso e às boas perspectivas do setor. A unidade já conta com cerca de 1 mil colaboradores e desde outubro opera com um dique flutuante, buscando eficiência operacional para manter o ritmo de entrega das encomendas. “Temos uma programação até 2017 para produzir três embarcações de apoio marítimo por ano. 80% dos navios vão atender contratos com a Petrobrás”, acrescenta.
Fundo garante investimentos
O novo estaleiro da P2 Brasil contará com recursos do FMM (Fundo da Marinha Mercante). A prioridade, que coloca o projeto na fila para a liberação de recurso por meio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) foi concedida na última reunião do Fundo, em novembro passado. Sabe-se que a fábrica será construída na margem direita do rio, no lado de Itajaí. A empresa, no entanto, ainda não anunciou quando pretende dar início às obras.
O FMM é um dos principais instrumentos de fomento à indústria naval e ganhou fôlego desde 2003, garantindo a revitalização do setor também em Santa Catarina. Segundo o Sinaval (Sindicato da Indústria da Construção Naval) o fundo injetou no setor, nos últimos cinco anos, uma média de R$ 1,8 bilhões por ano.
As prioridades de financiamentos concedidas nas últimas reuniões do FMM, tanto para embarcações quanto para construções e ampliações de estaleiros, montam R$ 8,5 bilhões. Serão 270 projetos de embarcações e 11 estaleiros. O Sul do País deve ficar com cerca de R$ 2,0 bilhões. Boa parte desses recursos será injetado nos estaleiros de Navegantes e Itajaí.
Pronto para exportar embarcações
O último balanço do Sinaval mostra que os pedidos em carteira do setor de construção naval em Itajaí e Navegantes somam mais de 54 embarcações de apoio marítimo e portuário. As entregas devem acontecer de agora até 2017. Só do estaleiro Detroit, outra multinacional instalada em Itajaí, com matriz no Chile, devem sair 33 navios. Do Navship serão mais 18. A Keppel Sigmarine prevê pelo menos 2 navios, em 2012, pois ainda está investindo na estrutura que adquiriu do grupo paulista TWB.S.A, em Navegantes, em 2010. O projeto da empresa é aplicar R$ 50 milhões em reformas e restruturação do estaleiro.
A empresa de Singapura fez em Santa Catarina seu segundo investimento no Brasil e o primeiro voltado às embarcações de apoio marítimo. Segundo um executivo da companhia, que não pode se identificar por causa de normas internas da empresa, a condição de cluster ou núcleo especializado favorece o Estado no mercado nacional. “Pelo perfil desses navios. São embarcações com maior valor agregado, que exigem mão de obra especializada”, comenta. Outro fator que beneficia os estaleiros catarinenses é o projeto da Petrobras para o setor de óleo e gás, que manterá aquecida a demanda pelas embarcações fabricadas por aqui. “Se a Petrobrás mantiver e efetivar seu projeto, de ter mais plataformas e mais barcos de apoio, o setor tem condições de demanda e deve se tornar referencia fora do País”, acrescenta.
No nível tecnológico atual e com a mão de obra qualificada que dispõe, o executivo da Keppel Sigmarine acredita que o Estado tem condições de enfrentar até eventuais solavancos mercadológicos. “No setor de construção de barcos de apoio, já há condições de disputar mercado lá fora, atendendo necessidades de outros mercados”, explica.
Fonte: ND Tijucas