quarta-feira, dezembro 23, 2009

Futuro da música digital também está na nuvem


Com o acordo assinado este mês para comprar o Lala, um serviço de música na web, a Apple pode estar apontando o caminho para o futuro da música. Nesse futuro, os arquivos de música digital que as pessoas armazenam em seus computadores podem se unir aos discos em vinil, fitas cassetes e CDs no empoeirado porão dos formatos musicais abandonados.
Para um quadro pequeno mas crescente de apreciadores da música, essa não é uma visão estapafúrdia. Josh Newman, 30, consultor de tecnologia em Toronto, viaja extensamente e paga US$ 16 ao mês pelo Spotify, um serviço de música por assinatura por enquanto disponível oficialmente apenas na Europa. O Spotify permite que seus usuários ouçam sem quaisquer limites as faixas que constam de seu acervo.

Desde que o Spotify lançou um aplicativo para o iPhone, meses atrás, Newman começou a ouvir música quase exclusivamente por meio do site, ainda que tenha 35 mil canções gravadas nos discos rígidos de seus computadores.

"A ironia é que eu nem mesmo ouço toda aquela música", disse Newman. "Como se eu fosse preguiçoso demais para isso. Caso haja um artista cujo som desejo ouvir, prefiro usar o Spotify do que procurar pela faixa desejada em minha coleção".

A ideia de uma juke box sem limites de memória no céu ¿ ou, em informatês, "na nuvem" - existe já há algum tempo, mas está dominando os pensamentos dos executivos de um setor para o qual "choro" é mais que um tipo de música. O setor de música, que uma década atrás movimentava US$ 40 bilhões anuais, agora fatura metade desse montante. E, em uma tendência ainda mais ameaçadora, o crescimento da receita auferida com downloads digitais, que ainda respondem por apenas um quinto do total vendido, já começa a se desacelerar.

O acordo para a aquisição do pouco conhecido Lala foi um negócio modesto do ponto de vista da Apple; o preço foi de mais de US$ 80 milhões, de acordo com uma pessoa que está informada sobre os termos da transação. Mas ele gera muito interesse pela indicação que oferece sobre os planos da Apple quanto aos serviços de música em formato stream.

Com receita anual de US$ 2 bilhões em sua loja digital de música iTunes, a Apple está em posição favorável para orientar os consumidores ao longo do processo de armazenagem de suas coleções de música em servidores na web, e para ensiná-los a ouvi-las de maneiras diferentes. Além disso, a empresa também poderia promover estreita integração entre um serviço como esse e o seu iPhone, iPod Touch e todos os demais aparelhos Apple, existentes e futuros, capazes de se conectar à internet.

Os usuários não teriam mais de sincronizar suas coleções de música entre diferentes aparelhos, não precisariam se preocupar com a memória restante em seus celulares e poderiam trocar listas de faixas e recomendações com os amigos de maneira muito mais fácil.

A Apple poderia pedir que os usuários pagassem uma assinatura mensal por acesso a um catálogo de música armazenado em nuvem, semelhante ao do Spotify. Dois executivos do setor de música afirmam que a empresa já vem estudando um serviço desse tipo há anos, mas que não havia conseguido chegar a acordo com as gravadoras quanto aos termos de divisão da receita.

"Nós em geral não comentamos sobre nossos propósitos e planos", disse Steve Dowling, um porta-voz da Apple.

David Pakman, sócio do grupo de capital para empreendimentos Venrock e antigo presidente-executivo do serviço de download musical eMusic, disse que a Apple poderia "acelerar o movimento da mídia para a nuvem com mais rapidez que qualquer outra empresa". E a aquisição do Lala, em sua interpretação, "nos informa que é isso que eles estão fazendo".

Outros recentes desdobramentos nos setores de música e tecnologia também sugerem mudança iminente em uma abordagem secular quanto à música, que as pessoas por muito tempo tenderam a considerar como algo que tinham, quer em formatos físicos ou em formatos digitais em seus computadores.

Em agosto, o Spotify introduziu seu aplicativo para o iPhone, que armazena cópias temporárias de canções e listas de músicas no aparelho para que a execução possa continuar caso o celular perca a conexão. O presidente-executivo da Spotify, Daniel Ek, disse que o número de assinantes havia crescido significativamente desde a introdução do aplicativo. Ele não quis fornecer números exatos.

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