quinta-feira, dezembro 10, 2009

Será que a App Store pode transformar a Apple em Microsoft?




Ian Lynch Smith, um homem descabelado e enérgico com idade próxima aos 40 anos, sorri enquanto enumera alguns dos jogos que a Freeverse, sua pequena produtora de software sediada no Brooklyn, em Nova York, conseguiu colocar na cobiçada (e sempre mutável) lista de mais vendidos da iPhone App Store: Moto Chaser, Flick Fishing, Flick Bowling e Skee-ball.
O desenvolvimento de Skee-ball demorou dois meses, diz Smith, e rendeu US$ 181 mil em receita à Freeverse em seu primeiro mês de vendas. O mais recente projeto da empresa para a App Store é um jogo no qual uma heroína de Jane Austen, de vestido rendado, derruba legiões de zumbis com golpes de caratê. "Nunca havia surgido uma experiência assim no software para celulares", disse Smith sobre o boom da App Store. "Trata-se do futuro da distribuição digital de todas as coisas: software, jogos, entretenimento, toda espécie de conteúdo".
Enquanto a App Store evolui de uma bizarra coleção de novidades brincalhonas para o que analistas e adeptos definem como plataforma que está trazendo rápida transformação à computação e telefonia móvel, seus objetivos estão mudando, a paciência dos programadores independentes está sendo testada, as vendas das plataformas Apple de que os aplicativos precisam -iPhone e iPod Touch- estão disparando e os concorrentes da empresa se veem forçados a reformular modelos de negócios e linhas de produtos. O sistema ameaça até romper a blindagem empresarial da própria Apple.
Graças em larga medida ao iPhone, lançado em 2007, e à App Store, inaugurada no ano passado, os celulares inteligentes se tornaram o canivete suíço da era digital. Oferecem uma variedade espantosa de funções e ferramentas, ao comando de um dedo: mensagens de texto e e-mail, vídeo e fotografia, mapas, sistemas de navegação, mídia e livros, música e jogos, compras móveis e até mesmo chaves sem fio para acionar carros a distância.
"A Apple mudou a visão sobre o que você pode fazer com aquele pequeno celular que carrega no bolso", disse Katy Huberty, analista do Morgan Stanley. "Os aplicativos fazem do celular inteligente uma tendência revolucionária -como há anos não se via na tecnologia dos bens de consumo".
Huberty compara o advento da App Store e iPhone ao papel pioneiro que a America Online assumiu ao promover a adesão em larga escala dos consumidores à internet, nos anos 90. Também faz comparações com a forma pela qual os laptops reverteram as expectativas setoriais sobre as preferências dos consumidores e os computadores de mesa. Mas ela aponta que pode haver algo de ainda mais profundo em jogo.
"O iPhone é algo de diferente. Está mudando nosso comportamento", ela diz. "O jogo que a Apple vem jogando tem por objetivo fazer dela a Microsoft no mercado dos celulares inteligentes".
A popularidade do modelo Apple de aplicativos cresce de forma febril. Dezenas de milhares de programadores independentes disputam espaço para produzir programas para a empresa, e a App Store já oferece mais de 100 mil aplicativos. A Apple recentemente anunciou que os consumidores já haviam baixado mais de dois bilhões de programas da loja.
Importantes concorrentes como a Research in Motion (fabricante do BlackBerry), Palm (fabricante do Pre), Google (produtora do sistema operacional Android para celulares) e Microsoft (produtora do Windows Mobile) estão correndo para reproduzir em seus sistemas o frenesi causado pela App Store.
A febre dos aplicativos levou cidades como Nova York e San Francisco a abrirem bancos de dados municipais ao público, a fim de estimular programadores a desenvolver aplicativos ultralocalizados para computadores e celulares.
Não é preciso ir além do saguão da sede da Apple, em Cupertino, Califórnia, para perceber que o iPhone e os aplicativos que operam nele são peças centrais da estratégia da companhia para a telefonia móvel. Bem no meio do saguão fica uma imensa montagem formada por 20 telas LED povoadas por 20 mil ícones brilhantemente coloridos.
Enquanto Philip Schiller, vice-presidente mundial de marketing de produtos na Apple, explica como funciona o telão -a cada vez que um aplicativo é comprado, o ícone que o representa na tela se move, causando um tremor nos ícones vizinhos-, ele também se agita.
Normalmente reservado e lacônico, Schiller move as mãos rapidamente e permite que sua voz ganhe tom de intensa animação ao falar sobre o potencial que a App Store desencadeou. "Creio com certeza que esse seja o futuro do desenvolvimento e distribuição do melhor software", ele afirma. "A ideia de que qualquer um, de uma pessoa isolada a uma grande empresa, possa criar um software inovador e passível de ser carregado no bolso de um usuário está simplesmente explodindo. É uma verdadeira inovação, e o futuro será assim; todos os criadores de software percebem".
A Apple costuma envolver suas decisões internas em um manto de segredo -tática que ajudou a preservar a mística da empresa e a gerar intenso interesse pelo lançamento de seus produtos. Mas a App Store depende de imensos quadros de programadores externos para povoar suas prateleiras virtuais com produtos, o que deixa a Apple na posição incomum e ocasionalmente desconfortável de colaborar com profissionais que não estão enquadrados à metodologia da empresa.




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