A Tessera Technologies talvez seja a mais solitária empresa de tecnologia no Vale do Silício. A maior parte dos edifícios de escritório em torno do seu estão abandonados. Os vastos estacionamentos vazios são reflexo da economia em retração, da consolidação setorial e da perda de empregos no projeto e produção de tecnologia para empresas internacionais.
Muitas das organizações que um dia ocuparam os edifícios vizinhos à Tessera, especialista na fabricação de equipamentos de computação muito pequenos, tinham linhas de montagem e operações industriais na área. Mas terminaram por abandonar suas operações de produção, um segmento onde existe intensa concorrência, e deixaram a Tessera sozinha. De fato, um recente estudo do Serviço de Estatísticas do Trabalho dos Estados Unidos demonstra que o Vale do Silício perdeu mais de um quarto de seus postos de produção de chips, computadores, instrumentos e equipamentos de comunicação, entre 2001 e 2008.
"Não sei por quanto tempo os demais edifícios ficarão vazios", disse Henry Nothhaft, presidente-executivo da Tessera, que prefere ser chamado pelo apelido Hank. "Sou muito dedicado a essa área, e a questão me preocupa".
O empresário Nothhaft diz que a Califórnia tornou a vida das empresas de tecnologia difícil demais, com seus altos impostos e pesada regulamentação. Ainda assim, está determinado a provar que até mesmo uma pequena empresa será capaz de sobreviver e prosperar, assumindo os riscos corretos e usando sua competência em produção e engenharia.
O nicho da Tessera é a miniaturização. A empresa quer produzir câmeras digitais do tamanho de insetos e sistemas de refrigeração silenciosos e com apenas meio centímetro de altura, para laptops.
Essa paixão pelo minúsculo deriva de décadas de trabalho em um ramo crucial mas muitas vezes ignorado da produção de chips, conhecido como "empacotamento". A Tessera desenvolveu métodos patenteados para proteger os chips que equipam celulares e computadores contra desgaste e choques - especialmente o desgaste gerado pelo repetido aquecimento e resfriamento pelo qual os processadores passam.
Para executar esses feitos, a Tessera tende a trabalhar na escala nanotecnológica, onde essas coisas são medidas pelos leigos muitas vezes em forma de comparação com a espessura de fios de cabelo. Por exemplo, a Tessera é capaz de agrupar o equivalente a 10 mil cabos elétricos em um chip do tamanho de uma moeda de cinco centavos; cada cabo fica separado do vizinho pelo equivalente a dois fios de cabelo.
Muitas fabricantes de chips, como a Intel e Samsung, utilizam sob licença a tecnologia da Tessera. No ano passado, a empresa registrou receita de US$ 250 milhões, a maior parte da qual pelo licenciamento de tecnologia, e dedicou 25% desse monte a pesquisa e desenvolvimento.
A estratégia da Tessera a envolve em disputas judiciais quase constantes, que a levam a acusar alguns dos maiores fabricantes mundiais de chips de roubar suas técnicas de empacotamento.
A Tessera em geral resolveu a maioria dessas queixas por acordo, e o preço de suas ações reflete essa paz. Nos últimos meses, elas subiram de US$ 9 para US$ 26. Agora a empresa quer se concentrar em crescer e solidificar uma estratégia que está em desenvolvimento há quatro anos.
Ao eliminar os componentes mecânicos, a Tessera está reduzindo cada vez mais o tamanho de suas câmeras, e agora quer reduzir o preço. "Pode-se construir essas coisas usando técnicas tradicionais da produção de chips, conhecidas por seu custo/benefício positivo", disse Kevin Vassily, que acompanha a Tessera como analista da Pacific Crest Securities. "Isso abre o mercado para muitas coisas que por bastante tempo eram impossíveis".
O preço dos aparelhos da Tessera deve cair a ponto de permitir colocar uma câmera até mesmo nos celulares mais baratos. A empresa quer que fabricantes de brinquedos, empresas de vigilância e fabricantes de videogames encontrem novos usos para sua câmera, por exemplo em ursos de pelúcia que responderiam às reações de uma criança. A Tessera fez outra aposta de risco ao desenvolver um novo tipo de sistema de refrigeração.
Os computadores em geral utilizam ruidosos ventiladores para arrefecer o calor gerado por chips e outros componentes. Para substitui-los, a Tessera criou um dispositivo que movimenta partículas de ar dotadas de carga elétrica, e cria uma brisa fria. O aparelho é muito menos ruidoso que os ventiladores que equipam a maioria dos computadores, ocupa menos espaço e requer menos energia para propiciar a mesma refrigeração.
A tecnologia, embora ainda em estágio de protótipo, poderia servir bem a fabricantes de computadores como Apple e Dell, que estão concorrendo para produzir o mais fino, silencioso e leve dos laptops.
E embora outras empresas tenham desistido de fabricar coisas, um trabalho complicado, a Tessera vê os sistemas de refrigeração como forma de deixar de lado o modelo de licenciamento e de colocar produtos físicos no mercado.
"Não estamos decididos ainda, mas gostaríamos de estar em posição de fabricar alguns desses produtos", disse Nothhaft.
Fonte: www.terra.com.br
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