Em um computador, ter de preencher um formulário e digitar um número de cartão de crédito para comprar alguma coisa é incômodo, mas não muito. Em um celular, isso pode bastar para convencer o consumidor a desistir da compra.
É por isso que investidores, empresas iniciantes e grandes companhias estão injetando recursos na criação de serviços que facilitariam a compra de produtos e transferências de dinheiro via celular.
O objetivo é transformar os aparelhos em cartões de crédito ou talões de cheques virtuais, permitindo comércio e operações bancárias com poucos cliques, como as pessoas se acostumaram a realizar em seus computadores. Mas reduzir esses serviços de forma a adaptá-los aos celulares oferece sérios desafios.
Sistemas de pagamento móveis já foram experimentados no passado, com sucesso moderado. O que vem estimulando uma série de novas transações e projetos nesse segmento, dizem analistas setoriais e executivos, é o sucesso do iPhone, do BlackBerry e de outros aparelhos sofisticados. Esses celulares tornam mais fáceis as interações complicadas, e demonstraram que as pessoas se dispõem a gastar dinheiro em música, jogos e produtos virtuais como um traje de US$ 2 para um personagem de videogame.
Agora, começou uma corrida pelo desenvolvimento de novos sistemas de pagamento - e para obter comissões sobre as transações nas quais ele venha a ser utilizado.
"Muitas empresas grandes, com recursos sólidos, estão investindo pesado nessa ideia", diz J. Gerry Purdy, analista setorial da Frost & Sullivan, uma empresa de pesquisa de mercado. "Elas estão percebendo que os retornos podem ser enormes".
"Nós sabemos que ela vai chegar", disse Purdy sobre a tecnologia. "A questão vai ser facilitar seu uso para os consumidores".
A Obopay, uma empresa iniciante que permite que pessoas transfiram dinheiro umas às outras via mensagens de texto, obteve US$ 35 milhões em capital da divisão de investimento da Nokia em março. Foi o maior investimento em uma empresa iniciante de serviços financeiros este ano, de acordo com a Associação Nacional de Capital para Empreendimentos dos Estados Unidos. Na semana passada, a MasterCard introduziu um serviço chamado MoneySend, que utiliza parte da tecnologia da Obopay.
Também na semana passada, a Boku, uma empresa iniciante de serviços de pagamento em celular, anunciou ter obtido US$ 13 milhões do setor de capital para empreendimentos. A Boku, criada pela fusão de duas outras empresas iniciantes, a Paymo e a Mobillcash, diz que se considera como a resposta ao Visa ou MasterCard em forma de celular. Mas em lugar de usarem seus cartões de crédito, a Boku propõe que os usuários utilizem seu número de celular para aprovar as transações.
O sistema responderia com uma mensagem aos usuários na qual solicita que eles confirmem os pagamentos com o uso de uma senha, e a soma seria acrescida à conta do celular. As operadoras de telefonia móvel podem receber até 50% do preço de compra, e a Boku recebe entre 5% e 10%.
"Todo mundo sabe o próprio número de celular, e nem todo mundo sabe seu número de cartão de crédito", disse Mark Britto, presidente-executivo da Boku.
Quando as pessoas utilizam seu número de celular em uma transação, a probabilidade de que concluam a compra é 10 vezes maior do que se tiverem de digitar seu número de cartão de crédito e dígito de confirmação, diz David Marcus, presidente-executivo de outra empresa iniciante, a Zong. Mais ou menos como a Boku, a Zong permite que as pessoas utilizem os números de seus celulares para comprar jogos, produtos virtuais e moeda virtual.
"Se a pessoa quer comprar um pinguim virtual por US$ 2, não vai tirar o cartão de crédito da carteira e digitar 16 números", diz Marcus. "Transações como essas são compras por impulso".
Mas por que preferir pinguins virtuais a bens reais como livros ou roupas? Por conta das salgadas comissões cobradas pelas operadoras de telefonia móvel dos Estados Unidos, que tornariam inviáveis transações com produtos reais, enquanto os produtos virtuais têm custo quase zero de produção. A Boku e a Zong planejam começar a aceitar transações com produtos reais quando as comissões começarem a cair, o que pode acontecer se as operadoras de telefonia móvel perceberem que as pessoas estariam interessadas em usar celulares para fazer compras.
As companhias de pagamentos móveis também precisam conquistar a cooperação do varejo, que precisam acrescentar a seus sites opções de pagamento com o uso de aparelhos ou aplicativos móveis - mais ou menos da mesma maneira que muitas lojas aceitam pagamento por meio do serviço de pagamentos online PayPal. A Boku diz que sua estratégia é tentar estabelecer um relacionamento direto com grandes cadeias de varejo, e permitir que comerciantes de menor porte ofereçam serviços de pagamento Boku com relativa facilidade.
Até agora, os serviços de transferência de dinheiro via celular conquistaram mais sucesso nos países em desenvolvimento, onde menos gente dispõe de contas bancárias tradicionais. Nos Estados Unidos, os céticos dizem, as pessoas continuarão a preferir cartões de crédito, dinheiro ou cheques.
Mas a oportunidade oferecida pelas comissões de um número crescente de transações móveis é suculenta demais para rejeitar, diz Aaron McPherson, analista da IDC Financial Insights. "Se você é profissional de capital para empreendimentos e gosta de apostas altas, o segmento é atraente, mas muitos dos apostadores sairão perdendo", ele diz.
Fonte: www.terra.com.br
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