segunda-feira, julho 09, 2012

Indústria naval está preparada para crescer, diz Abenav

Dirigente diz que indústria naval do país vive um momento ''''mágico''''. Navio de produtos Sérgio Buarque de Holanda começa a operar em julho

Rio de Janeiro (RJ) - Começa a operar no início de julho o navio de produtos Sérgio Buarque de Holanda, construído pelo Estaleiro Mauá, do Rio de Janeiro. O petroleiro é a segunda embarcação entregue pelo Estaleiro Mauá e a terceira construída dentro do Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef), responsável pela revitalização da indústria naval brasileira.

Com 183 metros de comprimento, 43,8 metros de altura e capacidade para 48,3 mil toneladas de porte bruto, o navio fará o transporte de produtos derivados claros de petróleo (gasolina e diesel) entre os estados do país. Ainda não foi decidida qual será a primeira viagem do Sérgio Buarque de Holanda.

Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria Naval e Offshore (Abenav), Augusto Mendonça, a indústria naval do país vive um momento "mágico": “existe mercado, o governo está incentivando, temos apoio da Petrobras e participação do sistema financeiro. A indústria está estruturalmente preparada”, disse ele.

O Promef encomendou 49 embarcações junto a estaleiros nacionais, com investimento de R$ 10,8 bilhões. Dois navios do programa já estão em operação: o suezmax (petroleiro com dimensão que permite sua passagem pelo Canal de Suez) João Cândido, construído pelo Estaleiro Atlântico Sul (PE), e o navio de produtos Celso Furtado, do Mauá. Outras duas embarcações, batizadas de Rômulo Almeida e José Alencar, já foram lançadas pelo Mauá e estão em fase final de acabamento.

Segundo informações da Transpetro, as encomendas do Promef trouxeram investimentos para a modernização do parque naval existente no país e para a implantação de três novos estaleiros: o Atlântico Sul (em operação) e o STX-Promar (em construção), em Pernambuco, e o Estaleiro Rio Tietê (em construção), em São Paulo. A construção do Rio Tietê aconteceu graças às encomendas do Promef Hidrovia, responsável pela operação de comboios para o transporte de etanol pela Hidrovia Tietê-Paraná.

Encomendas

De acordo com Mendonça, o plano de negócios da Petrobras para o período de 2012 a 2016, apresentado em maio, em que a estatal anunciou investimentos de US$ 236,5 bilhões, 60% deles destinados à área de exploração e produção, se traduz numa demanda anunciada de novos equipamentos e produtos no valor de US$ 180 bilhões até 2020.

“Trabalhamos com uma expectativa de reserva na faixa de cem bilhões de barris de petróleo. As primeiras avaliações do pré-sal são de 40 bilhões de barris, então a gente chega a cem bilhões tranquilamente. A Petrobras tem uma expectativa de produção de quatro milhões de barris ao dia em 2020. Para isso, vai ter que ter equipamentos”, explica ele.

Mais plataformas, barcos e petroleiros

Somente para atender às necessidades da Petrobras, diz Mendonça, até 2020 a indústria naval deverá construir mais 105 plataformas de produção e sondas de perfuração, 542 barcos de apoio e 139 petroleiros. Mendonça explica que 19 plataformas já estão em fase de construção e 35 sondas de perfuração estão em processo de contratação.

“Temos o desafio de cumprir o conteúdo local com competitividade. Todos os desafios colocados para a indústria naval têm sido cumpridos tanto em relação ao conteúdo local como a prazos. Queremos ter uma indústria que seja referência mundial”, disse Augusto Mendonça.

Segundo Mendonça, a indústria naval brasileira atinge índices de conteúdo local de 65% a 70%. Para ele, a política de conteúdo local não deve ser vista como uma reserva de mercado e sim como uma grande oportunidade para o Brasil desenvolver sua indústria com competitividade.

“Isso é uma coisa importante e grande. Agora, temos que trabalhar a competitividade para fazer nossa referência de preço ser internacional. Nossa missão é atrair cada vez mais fornecedores, com tecnologia mais avançada, para ter um índice de competitividade bom”, disse ele.

Mendonça diz que o setor vive o pleno emprego, com 60 mil pessoas empregadas em estaleiros e expectativa de atingir cem mil em 2016.

“A mão de obra é de boa qualidade, o difícil é achar gente para contratar, tem pouca oferta”, reclama Mendonça, que diz que cada emprego criado num estaleiro gera mais de sete na economia.

Brasileiros na Coreia

A Queiroz Galvão Óleo e Gás S.A. (QGOG) anunciou o batismo de dois novos navios-sonda, o Amaralina Star e o Laguna Star, que serão operados pela companhia. A cerimônia aconteceu no estaleiro Samsung Heavy Industries, na Coreia do Sul.

O Amaralina Star será entregue pelo estaleiro em junho e o Laguna Star em setembro e devem entrar operação no Brasil em outubro e dezembro, respectivamente.

“O Amaralina Star e o Laguna Star são capazes de operar em lâmina d’água até três mil metros e poços de até 12 mil metros de profundidade, projetados para operar em águas ultra-profundas, particularmente na área do pré-sal”, disse Leduvy Gouvea, diretor-geral da QGOG.

Os dois navios-sonda estão afretados para a Petrobras em um contrato de seis anos de duração, com opção de renovação por mais seis anos. Os serviços de perfuração serão de responsabilidade da QGOG.

Condomínio de navipeças no Rio

Em meados do segundo semestre, o governo do estado do Rio vai lançar seu projeto de criação de um condomínio de navipeças a ser instalado na região de Duque de Caxias e Magé, na Baixada Fluminense. O investimento por parte do governo é de R$ 250 milhões, mas a expectativa é que o polo atraia investimentos de empresas no patamar de R$ 1,5 bilhão, gerando cinco mil empregos diretos, disse Alexandre Gurgel, diretor de Política Industrial e Novos Negócios da Companhia de Desenvolvimento Industrial (Codin), órgão vinculado à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços.

“Estamos trazendo para o Rio um projeto de implantação de um condomínio de navipeças que tem como principal objetivo oferecer uma área com logística integrada, com apoio de treinamento e com acesso hidroviário e saída para o mar. Estamos trabalhando no projeto desde agosto de 2011”, disse Gurgel.

Ele não deu detalhes de onde será implantado o condomínio nem das empresas interessadas em participar, mas disse que a área inicial do projeto é de 500 mil metros quadrados podendo ser expandida até 20 milhões de metros quadrados contíguos. A implantação está planejada pra o período de 2013 a 2016, disse Gurgel.

O Sindicato Nacional da Indústria Naval (Sinaval) tem 52 estaleiros associados, com 25 de maior expressão. Desses, 22 estão no Rio de Janeiro, explica Gurgel.

“Temos um cluster na Baía de Guanabara que processa cerca de 60 % do aço naval brasileiro. Considerando toda a força de trabalho registrada para o processamento de aço naval, o Rio tem mais da metade da força mão de obra brasileira. Temos os estaleiros mais importantes, força de trabalho, quantidade de encomendas e de processamento anual de 60%, centro de referência tecnológica no Parque do Fundão, onde o Cempes desenvolve inovação e tecnologia para a indústria naval e offshore. Quando se junta indústria, tecnologia, força de trabalho, política pública e governança, não tem outro caminho a ser seguido do que preparar um projeto para discutir o segundo e o terceiro elo da indústria naval, que é a cadeia de navipeças”, disse Gurgel.

Fonte: G1

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