Falta de infraestrutura faz com que 11% da produção do combustível seja queimada
O Brasil ainda não encontrou o equilíbrio para aproveitar 100% suas riquezas naturais. Só na produção de gás natural, o País desperdiçou R$ 7,4 bilhões nos últimos anos. Esse é o montante equivalente a 15 bilhões de metros cúbicos (m³) de gás queimados entre janeiro de 2004 e agosto de 2010, segundo cálculos do professor da Universidade de São Paulo (USP), Edmilson Moutinho.
A conta foi feita com base nos números da Agência Nacional de Petróleo, Biocombustíveis e Gás Natural (ANP) e nos preços cobrados das distribuidoras no período. O levantamento mostra ainda que, na média, o País tem jogado fora 11% de toda produção nacional de gás natural, enquanto o ideal seria não ultrapassar os 4%, conforme dados do Banco Mundial.
Segundo fontes do setor, a ANP quer ir além disso e reduzir os níveis de queima para 3% da produção nacional. Nos últimos meses, a agência iniciou uma série de discussões com as petroleiras, especialmente com a Petrobrás, para firmar um termo de compromisso que limite o desperdício do gás, insumo que ganhou status de combustível nobre no mundo inteiro.
Preço. No mercado doméstico, o setor mergulhou num movimento esquizofrênico, destaca o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires. Além de queimar parte expressiva da produção e importar gás da Bolívia (referente a um contrato antigo), o preço está acima da média do mercado mundial. Entre 2004 e 2010, subiu mais de 266%, segundo a Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace).
Especialistas explicam que o desperdício de gás é resultado de uma série de fatores. Um deles está ligado à falta de infraestrutura para escoar a produção. Em quase todas as plataformas, o gás é associado à produção do petróleo. Ou seja, não existe a alternativa de tirar o óleo sem o gás, que se perde por falta de alternativas de transporte. Uma parte desse combustível é reinjetado para aumentar a produtividades dos reservatórios. O que sobra a empresa vende ou queima, diz a sócia-diretora da consultoria Gás Energy, Sylvie D’Apote.
Ela destaca que, em alguns casos, não é viável fazer uma infraestrutura para escoar a produção já que a quantidade de gás é pequena. “Mas queimar 11% da produção é muita coisa, é um desperdício.” Na avaliação dela, com o pré-sal, novas alternativas terão de ser estudadas para limitar a queima do combustível, já que a quantidade de produção será muito maior a partir do ano que vem.
A Petrobrás diz que investiu US$ 400 milhões entre 1999 e 2008 para melhorar o aproveitamento de gás natural nos seus reservatórios. Nesse período, destaca a companhia, a produção de gás associado cresceu cerca de 50% enquanto o aproveitamento melhorou dez pontos porcentuais, de 75% para 85% – ou seja, 15% não teriam sido usados.
De acordo com a petroleira, o plano de negócios prevê investimentos adicionais em projetos de redução de queima de gás da ordem de US$ 320 milhões, cifra que deverá elevar o aproveitamento do combustível para 92% no final de 2012. Os especialistas pedem mais. “Além de ser um crime financeiro perder tanto dinheiro, a queima de gás também representa enormes prejuízos para o meio ambiente”, afirma Adriano Pires.
Ao ser queimado, o gás natural deixa de ser o combustível fóssil mais limpo e menos prejudicial à camada de ozônio comparado aos demais insumos não renováveis. Ele emite enormes quantidades de dióxido de carbono direto na atmosfera, diz Pires.
A situação só não é pior porque, na queima, o metano é transformado em CO2, reduzindo em 21 vezes seu potencial causador de efeito estufa, observa Mônica de Souza, gerente do Núcleo de Energia Térmica e Fontes Alternativas da Andrade & Canellas.
Fonte: http://www.estadao.com.br/
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