Os carros autônomos podem tornar a direção uma experiência mais verde e feliz e pôr fim aos acidentes rodoviários, de uma vez por todas?
Com jeans, tênis brancos e blusa listrada, Bob é um garoto de 6 anos de idade dos mais bem-vestidos. Ele está parado de pé no meio do estacionamento de um hotel e, assustadoramente, eu estou dirigindo em sua direção. Em vez de pisar no freio, coloco o pé no acelerador. Com apenas 10 metros para a colisão, uma fi leira de luzes vermelhas começa a piscar em meu painel e um bip estridente toca em ritmo de urgência. Num segundo, sou jogado para a frente quando os freios são acionados de forma automática e o carro para bruscamente a uma distância mínima de Bob.
É para isso que Bob serve. O manequim de tamanho infantil acaba de me ajudar a testar o primeiro sistema para automóveis capaz de antecipar uma colisão iminente com pedestres e frear automaticamente, se o condutor não o fizer. Ele está sendo submetido a testes finais e já foi incluído pela montadora sueca Volvo em seu novo modelo S60, que chegará às lojas este ano.
O sistema da Volvo é a mais recente de uma série de evoluções que se tornaram possíveis graças a sensores sofisticados baseados em câmeras, radares e lasers. Esses sensores já oferecem aos motoristas controles de velocidade de cruzeiro, que alteram o movimento de um carro para manter distância segura do veículo da frente, assim como tecnologias como o sistema de estacionamento semiautônomo.
Mas, de acordo com Jonas Ekmark, pesquisador da Volvo em Gotemburgo, isso é apenas o começo. Ekmark diz que agora estamos entrando numa era em que os veículos também vão obter informações em tempo real sobre o clima e os perigos da estrada, usando isso para melhorar a efi ciência de combustível e tornar a vida menos estressante para o motorista e mais segura para todos os usuários da estrada. “Nosso objetivo a longo prazo é um sistema de trânsito livre de colisões”, diz Ekmark.
Em última análise, isso significa tirar os falíveis seres humanos de trás do volante — por meio da construção de carros que se dirigem sozinhos. Alan Taub, vice- presidente de pesquisa e desenvolvimento da General Motors, espera ver veículos semiautônomos nas estradas até 2015. Eles precisarão de um motorista para lidar com ruas movimentadas da cidade ou decidir em cruzamentos complexos. Mas, na estrada, serão capazes de dirigir, acelerar e evitar colisões sozinhos. Em alguns anos, prevê, os motoristas serão capazes de tirar as mãos do volante, de maneira definitiva: “Vejo o potencial de lançar veículos totalmente autônomos em 2020”.
Os acidentes rodoviários matam cerca de 37 000 pessoas por ano nos Estados Unidos e na Europa, com erros de motoristas contribuindo em mais de 90% dos casos. Mas o vislumbre de um futuro mais seguro veio de testes feitos na Suécia em 2008 pela Slippery Road Information System (SRIS). O sistema usava sensores e computadores instalados em 100 veículos para coletar informações sobre a utilização dos freios, faróis de milha, limpador de para-brisa e sistemas de estabilidade eletrônica, bem como sobre as condições meteorológicas locais. Ao contrário do sistema da Volvo, em que cada carro usa as informações apenas dos seus próprios sensores, os carros no teste da SRIS enviavam os dados que coletavam para um banco de dados central a cada 5 minutos.
O estudo sugeriu que esses dados podiam dar ao motorista uma visão muito mais precisa das condições da estrada do que as estações meteorológicas locais conseguem oferecer. Os pesquisadores ainda têm de encontrar a melhor forma de mesclar as informações e transmiti-las de volta aos motoristas. No entanto, o estudo concluiu que redes como a SRIS podem melhorar a segurança e salvar vidas.
Um sistema mais sofisticado que envolve dados compartilhados está sendo implantado no Japão este ano. O país tornou-se líder mundial na área, graças à decisão do governo de financiar uma rede de transmissores infravermelhos, micro-ondas e de rádio nas estradas. Cerca de 2 milhões de veículos em estradas japonesas já podem acessar notícias sobre congestionamentos, estradas, acidentes, previsão do tempo, limites de velocidade e disponibilidade de estacionamento desses transmissores, que são enviadas como parte do Vehicle Information and Communication System (VICS). Ao longo dos próximos meses, câmeras e sensores posicionados nos 20 principais cruzamentos de Tokyo e Kanagawa começarão a alertar os motoristas de carros com receptores VICS dos perigos potenciais, tais como veículos tentando entrar na sua pista ou o trânsito no cruzamento à frente. O novo sistema Driving Safety Support System (DSSS) também pode enviar alertas sobre semáforos, sinais de parada e até mesmo pedestres e ciclistas na estrada. Ele será utilizado em cruzamentos importantes em todo o país até meados de 2011.
Também nesse período, um sistema semelhante projetado para operar nas principais rodovias japonesas já deverá estar funcionando durante mais de um ano. Chamado Smartway, ele emite um alerta quando o motorista fica muito próximo do veículo da frente, quando os veículos estão se aproximando de lado, e quando há congestionamento à frente. Alguns veículos novos da Nissan, da Toyota e de outros fabricantes de automóveis já estão equipados para usar o DSSS ou o Smartway. Carros mais velhos também podem acessar esses sistemas se seus receptores forem atualizados. Hoje, estamos a um pequeno passo — em termos tecnológicos, pelo menos — de permitir que os carros sejam controlados automaticamente.
Todos os carros
Na Europa e nos Estados Unidos, fabricantes de veículos veem a comunicação direta, veículo a veículo, como uma solução simples e mais barata do que construir uma infraestrutura rodoviária complexa. Seus planos preveem usar ligações Wi-Fi entre os veículos para formar redes temporárias e reconfiguráveis que irão compartilhar informações sobre as condições das estradas, clima local e acidentes de trânsito. O mais ambicioso dos projetos, uma colaboração entre sete fabricantes e universidades europeias, pretende usar as redes veículo a veículo para tornar o motorista desnecessário, pelo menos em parte da viagem. Chamada Sartre (Safe Road Trains for the Environment), a iniciativa prevê até oito carros com menos de 1 metro de distância entre um e outro dirigindo em comboio, controlados por um veículo operado por um motorista profissional.
Fonte: http://info.abril.com.br/
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