SÃO PAULO - Sem ele, o B.B King, Beyoncé, Coldplay viriam ao Brasil?
O segundo fenômeno mais benéfico do MP3 — depois, óbvio, de espalhar a música livremente pelo planeta nos anos 90 — é fazer os músicos trabalharem duro. Depois que a venda de CDs entrou em parafuso, com a propagação sem copyright das músicas pela web, os artistas têm de rodar o mundo, com suas toneladas de equipamento do lado, para faturar algo semelhante ao que tinham no passado. É assim que os nomões do show biz agora se acotovelam diante das plateias brasileiras, que antes eles esnobavam sem piscar. Para nós, maravilha: o que pode ser melhor, em música, do que ouvir tantos astros cara a cara?
O instituto alemão Fraunhoffer batizou o MP3 já se vão 16 anos. De lá para cá, nada ficou de pé no mundo da música a não ser a própria música, que continuou a passar bem, obrigado. O MP3 já não é há um tempão um formato que entusiasma tanto. Com HDs mais baratos, mais banda larga, opções que comprimem menos e sacrificam menos a qualidade das músicas, como o Flac, chamam mais a atenção de audiófilos e implicantes em geral. Mas a força do MP3 e o seu impacto na maneira que a massa de pessoas consome música só cresce. As gravadoras, que antes davam todas as coordenadas, agora encarnam humildemente o papel de agendadores de shows de novos talentos — estrelas já feitas não precisam delas quase que para nada. E os músicos estão com a guitarra debaixo do braço fazendo zilhões de shows. A Apple e a Amazon vendem cada vez mais música digital, é fato, mas ainda uma fração pequena do que se ouve globalmente. Nada que dê para sustentar um estilo de vida milionário para a indústria da música inteira, como nos bons tempos do CD e do LP.
Acompanhe comigo: só este ano estiveram no Brasil Metallica, Beyoncé, Coldplay, B.B. King, entre os nomes com maior ibope. E só se passaram três meses de 2010! E ainda virão ZZ Top, Franz Ferdinand, Matisyahu, Simply Red, Moby, Megadeth, Johnny Winter, Paul McCartney, Cranberries... Detalhe: se antes os shows se concentravam muito em São Paulo e Rio, agora já estão partindo para outras cidades brasileiras também, como Salvador e Porto Alegre. Os ingressos, é claro, para shows tão especiais, custam caro. Mas se trata de experiências únicas, que, a rigor, podem estar na categoria das coisas que não têm preço.
Como em qualquer caso de destruição criativa, há quem fique na beira da estrada agourando que algo não vai dar certo. Que só músicos jovens aguentarão tantos tours, que a carreira de músico, como ocupação principal ao longo da vida, vai deixar de existir. Bem, aquele tipo de carreira que existiu até os anos 80 está morto e enterrado. Mas outras formas de ganhar a vida já brotaram. Não há um monte de bandas brasileiras regionais distribuindo CDs de graça, para se tornarem conhecidas e ganharem com shows pelo interiorzão afora? Sem qualquer remorso, elas já estão aproveitando as oportunidades que o velho MP3 descortinou.
Fonte: http://info.abril.com.br/
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