Bertani, da Barra Energia: 'Já estamos analisando as áreas com cuidado e se houver projeto adequado devemos participar'
Rio de Janeiro (RJ) - Ao anunciar três rodadas de licitações da Agência Nacional do Petróleo (ANP) cinco anos depois do último leilão com oferta de áreas exploratórias no mar, o governo brasileiro oferece oportunidades de negócios para empresas de portes variados, nacionais e estrangeiras. A última rodada da ANP com oferta de blocos marítimos foi em 2007, ano de estreia da OGX do empresário Eike Batista. Na 10ª Rodada, em 2008, foram leiloados apenas blocos em terra.
Milton Costa, um experiente executivo da Petrobras com carreira internacional que assumiu a secretaria-executiva do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), acha que 2013 é um ano de "tremendas oportunidades" para a indústria de petróleo e gás brasileira. Costa observa que o barril de óleo está na faixa de US$ 100, preço que é um incentivo para qualquer empresa. "O ano é extremamente atraente para o Brasil, com o anúncio de três licitações com oportunidades atraentes, inclusive os blocos fabulosos do pré-sal. É uma possibilidade de novas companhias entrarem e as que estão aqui se prepararem para novas ofertas", observa Costa.
Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), concorda, com ressalvas. "Vamos ver se conseguimos recuperar tempo que perdemos. O setor vai viver um momento mais feliz em 2013, mas acho que falta rever duas coisas importantíssimas. Uma delas é o conteúdo local e a segundo a regra que coloca a Petrobras como operadora única do pré-sal com 30%, avalia Pires.
A quase nova abertura do setor no Brasil acontece em um momento de "boom" da extração de gás de xisto no Canadá e Estados Unidos, onde também se aposta na exploração de petróleo em águas profundas do Golfo do México. Também são grandes as apostas no Leste da África, Cazaquistão, Peru, Colômbia e Equador, só para citar concorrentes mais próximos.
No Brasil, já chama a atenção a presença de grandes petroleiras, algumas sem atividade até o momento, como a russa Gazprom e a australiana BHP Billiton, e as chinesas Sinopec e Sinochem, essas últimas com operação no Brasil como investidores com capital minoritário em projetos operados pela Repsol, Sinochem, Statoil e Perenco, só para citar alguns. Também se espera a participação de empresas já com presença forte no país como a BG, a Repsol, além de brasileiras como a Barra Energia, Queiroz Galvão Exploração e Produção (QGEP) e OGX. A TNK, sócia russa da HRT, também abriu escritório aqui.
"O anúncio das rodadas foi muito importante. Será uma oportunidade de reciclar nosso portfólio e comprar ativos em fase inicial", diz Paula Costa, diretora financeira e de relações com investidores da QGEP.
Também já foi notada a chegada de fundos de capital de risco, americanos e de outras nacionalidades, em busca de bons projetos. Investir em um negócio de risco como a fase de exploração de óleo e gás pode ser uma alternativa para aplicar recursos em projetos com boa remuneração em um momento de grande liquidez e baixa remuneração.
Fundos com mais apetite para o risco têm no Brasil o exemplo do sucesso do First Reserve e do Riverstone, que aplicaram cada um US$ 500 milhões para criar a Barra Energia. A empresa recebeu investimentos iniciais de US$ 1,2 bilhão em 2010 e o prêmio veio após a compra de 10% de um bloco no pré-sal de Santos, o BM-S-8, pouco antes de a Petrobras descobrir o campo de Carcará. A área foi incluída no plano estratégico da Petrobras que prevê produzir 4,2 milhões de barris de petróleo no Brasil em 2020.
Renato Bertani, CEO da Barra confirma que a empresa tem interesse em novas áreas e está conversando com diversas companhias com o objetivo de formar parcerias. "Já estamos analisando as áreas com cuidado, com prudência e se encontrar projeto adequado devemos participar", adianta.
Outra novata no setor, a Ouro Preto Óleo e Gás, capitaneada por Rodolfo Landim, ex-Petrobras e idealizador da OGX, também busca parceiros. "O objetivo da Ouro Preto é atrair grandes investidores para seu projeto. E a oportunidade que se aproxima para adquirir novos ativos de exploração é a rodada", afirma Dirceu Abrahão, diretor da Ouro Preto.
A movimentação foi notada por escritórios de advocacia. Giovani Loss, do Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr e Quiroga Advogados, conta que já foi contratado por quatro empresas de óleo e gás, nacionais e estrangeiras, e já nota o interesse de fundos interessados em conhecer as oportunidades do mercado brasileiro. "O que tenho percebido é que alguns clientes já esperavam o leilão, mas alguns potenciais investidores financeiros foram surpreendidos pelo anúncio, já aconteceu quando ninguém mais esperava", afirma Loss.
A diversidade das áreas que a ANP vai oferecer em 2013 deve atrair o interesse de empresas de pequeno e médio porte, até as gigantes, chamadas de "majors" no jargão do setor. Na 11ª Rodada de Licitações, marcada para 14 e 15 de maio, serão oferecidos 289 blocos distribuídos em terra e em águas rasas e profundas.
Também é grande o interesse pelo primeiro leilão de áreas no pré-sal sob o regime de partilha de produção, marcado para 28 e 29 de novembro, cujos modelos de contrato ainda não são conhecidos. Em recente entrevista para o Valor, a diretora geral da ANP, Magda Chambriard, explicou que ainda não foi decidido se o campo de Libra, já descoberto e ainda da União, será oferecido, já que a Presidência da República pediu mais opções de blocos.
A primeira Rodada de Partilha, na qual a Petrobras terá forçosamente um mínimo de 30% e será operadora, traz expectativas, dúvidas e alguma ansiedade por parte do mercado. Wagner Freire, ex-diretor da estatal que ajudou a fundar as novatas Starfish (vendida para a angolana Sonangol) e a Silver Marlim, vê com preocupação os contratos de partilha e a própria criação de uma estatal, a Pré-Sal Petróleo S/A (PPSA) para administrar o óleo e gás extraídos nas áreas de partilha. "Vejo tantas aberrações e inconstitucionalidades que o melhor mesmo seria postergar sua aplicação para buscar uma solução mais adequada", diz Freire. O executivo chama a atenção ainda para o que chama de "instabilidade regulatória e legal" causada pelo controle, pelo governo, dos preços dos combustíveis vendidos pela Petrobras.
Por último, e não menos importante, a ANP pretende promover nos dias 11 e 12 de dezembro a 12ª Rodada, oferecendo áreas com potencial para exploração de gás em terra. "O que a ANP pretende nas suas políticas, e ao oferecer essas rodadas, é gerar mais produtores", afirma Helder Queiroz, diretor da ANP responsável pela definição de blocos.
Ele explica que a agência gastou R$ 1,8 bilhão para mapear as bacias sedimentares no Brasil com possibilidade de produzirem gás, inclusive o chamado não-convencional, que no Brasil se chama gás de folhelho ou xisto (equivalente ao "shale gas" americano) e também o "tight gas", que é originado em outro tipo de rocha.
Fonte: Valor Econômico
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