domingo, outubro 21, 2012

Cientistas de Salamanca analisam evolução climática no Atlântico brasileiro

Grupo de Geociências Oceânicas trabalha com a Universidade de São Paulo e com a companhia petroleira Petrobras na análise dos sedimentos de uma região rica em petróleo
 
Cientistas da Universidade de Salamanca, em colaboração com a Universidade de São Paulo e a companhia petroleira Petrobras, estão dispostos a iniciar uma pesquisa no fundo marinho do Oceano Atlântico da costa brasileira. O objetivo científico é analisar a evolução climática desta região nos últimos 100.000 anos, mas os dados obtidos também permitirão que se conheça melhor as características desta zona em que se encontrou uma das maiores reservas de petróleo do mundo, informação útil para futuras perfurações.
O Grupo de Geociências Oceânicas da Faculdade de Ciências da Universidade de Salamanca trabalha há anos com o Instituto Ocanográfico da Universidade de São Paulo, que, por sua vez, colabora com a companhia Petrobras, e agora surgiu a oportunidade de consolidar estas relações através de projetos conjuntos financiados pelas duas universidades. “Aproveitaremos o material da Petrobras para fazer reconstruções climáticas dos últimos 100.000 anos, com especial ênfase no Holoceno, isso é, nos últimos 10.000 anos aproximadamente, na Baía de Santos, região pouco explorada”, afirma em declarações a DiCYT José Abel Flores Villarejo, cientista do Departamento de Geologia da Universidade de Salamanca que lidera a iniciativa por parte da Espanha.
A razão pela qual até o momento não se estudou adequadamente esta região se deve ao fato de que os materiais que os cientistas poderiam encontrar no fundo marinho não são idôneos para estudar o clima através dos sedimentos, já que se encontram removidos. De fato, em uma campanha com o navio oceanográfico espanhol Hespérides, realizada em 1993, foram extraídos materiais, mas estes “não foram úteis”, afirma o cientista. A diferença agora é que, depois de muitas perfurações em busca de petróleo, a companhia Petrobras teve acesso a uma bacia que está inalterada, da qual os pesquisadores poderão extrair sedimentos não removidos. Tecnicamente estes sedimentos recuperados denominam-se “testemunhos” e nesta ocasião foram encontrados a 2.000 metros de profundidade.
Com base no convênio firmado entre as duas universidades “faremos uma reconstrução climática de alta resolução das costas brasileiras”, indica o cientista. Neste contexto, o termo “alta resolução” indica que será obtida uma grande quantidade de dados em relação ao espaço de tempo compreendido no estudo. O material já está a caminho e prevê-se a realização de análises de micropaleontologia e geoquímica isotópica, isso é, a pesquisa de fósseis microscópicos e da concentração de elementos químicos nas amostras. Graças a esta informação, os especialistas serão capazes de deduzir como era o clima em uma época determinada, já que entre os fósseis somente se encontram espécies que sobrevivem em certas condições.
“Estudaremos a variabilidade climática e nossas publicações farão uma reconstrução climática, apresentando como foi o clima ali e comparando-o com registros de gelo na Antártida e com testemunhos de outras pontos do planeta, inclusive do Atlântico oriental”, afirma José Abel Flores.
Petróleo abundante
Ademais, conhecer melhor os sedimentos marinhos albergados em grandes quantidades de petróleo é muito interessante para a Petrobras. “Uma das reservas de petróleo mais importantes do mundo está ali. Até pouco tempo somente se exploravam reservas superficiais, mas foram feitas perfurações mais profundas e nosso testemunho procede deste trabalho”, indica o pesquisador de Zamora.
A companhia está interessada em estudar “regiões potenciais de petróleo” e estas análises podem ser muito úteis. “Em algumas ocasiões somente podemos ver se estão presentes as condições adequadas para fazê-lo”, comenta José Abel Flores, isso é, se geologicamente um lugar é equivalente a outro em que já se encontrou o combustível.
O cientista destaca que a Petrobras possui seus próprios grupos de pesquisa e financia as universidades para ter pesquisadores que não só realizem explorações, mas também ciência básica. “Estudos do meio ambiente e do aquecimento global são realizados porque se sabe que em determinado momento lhes aportará benefícios”, assegura. Ainda que as técnicas utilizadas por todos os cientistas neste campo sejam parecidas, baseadas na micropalenteologia e geoquímica isotópica, até agora não se encontrou uma resolução muito alta nos estudos vinculados ao petróleo.
 

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