RIO – Um mês e dez dias foi o tempo que durou a euforia dos investidores com as ações da Petrobras.Com um lucro líquido muito abaixo do esperado por analistas no quarto trimestre, resultado divulgado na noite de quinta-feira, os papéis da companhia despencaram mais de 8% na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) na última sexta-feira, o maior tombo desde a crise financeira internacional de 2008. Em um único pregão, a estatal perdeu R$ 28,1 bilhões de valor de mercado. Segundo analistas ouvidos pelo GLOBO, as ações devem entrar em tendência de estabilidade nas próximas semanas, com um eventual repique de alta nos preços para corrigir a forte baixa da semana passada. Para o longo prazo, as corretoras seguem otimistas sobre os resultados da Petrobras, principalmente com a entrada em operação dos megacampos do pré-sal, a partir de 2014.
- Os números vieram ruins e existe um consenso sobre isso. Acabou a euforia de começo de ano com os papéis da empresa. E os impactos provocados pelo aumento dos custos na Petrobras não foram pontuais. É algo que vamos ver rotineiramente nos próximos balanços – diz Ricardo Correa, analista de petróleo da Ativa Corretora.
O resultado da estatal – que lucrou R$ 5,049 bilhões no quatro trimestre, uma queda de 52,3% em comparação ao mesmo período do ano anterior (R$ 10,602 bilhões) – foi quase metade do estimado por analistas, que esperavam ganhos na faixa de R$ 9,2 bilhões a R$ 10,2 bilhões. Segundo especialistas, o desempenho foi afetado pelo aumento de despesas operacionais.
Na última sexta-feira, os analistas que acompanham o dia a dia da empresa pararam para avaliar o balanço da companhia. Apesar das muitas críticas ao aumento de custos da estatal, as expectativas de valorização da ação no longo prazo não foram modificadas na maioria das casas. Banco Safra, Fator Corretora, Socopa e Concórdia soltaram na sexta-feira recomendação de compra ou indicaram que as ações da Petrobras devem ter um desempenho acima do mercado.
Na Planner Corretora, segue a recomendação de compra das ações da empresa, com preço-alvo de R$ 30,20. Os analistas da corretora alertaram que essa recomendação vale para uma visão de longo prazo. Em relatório, o Deutsche Bank também manteve o preço-alvo para as ações da Petrobras em R$ 35. Mas os analistas Marcus Sequeira e Luiz Fonseca revelaram pessimismo com os resultados. “Os dispêndios de capital, se confirmados como recorrentes, podem resultar numa onda de redução no lucro”, avaliaram.
O Banco do Brasil (BB) também manteve uma expectativa positiva para os papéis da estatal para os próximos anos. E ressaltou a entrada em operação, nos próximos anos, de campos do pré-sal da Bacia de Santos, como Barracuda, Caratinga, Marlim, Marlim Leste, Albacora e Albacora Leste.
Na Geração Futuro, o analista Lucas Brendler também ressaltou o potencial de valorização das ações da Petrobras no longo prazo. Segundo ele, as recentes mudanças em diretorias da Petrobras tornaram a gestão da empresa tecnicamente mais sólida para enfrentar os desafios do pré-sal. A diretora de Gás e Energia, Maria das Graças Foster, assume hoje a presidência da companhia, no lugar de José Sérgio Gabrielli, que vai seguir carreira política na Bahia.
- O investidor precisa entender que setores como o de petróleo têm retorno de longo prazo – afirma Brendler.
Mesmo com o fraco resultado, as ações da empresa ainda acumulavam uma alta de 10,74% e 10,37% no ano nos papéis ordinários e preferências, respectivamente, ao fim do pregão da sexta-feira passada. Neste ano, os trabalhadores que destinaram uma parte dos recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para papéis da estatal registravam um rendimento de 17,69% no ano até o fim de janeiro. Boa parte desse retorno, no entanto, foi perdido com a baixa dos últimos pregões.
De acordo com especialistas, a recuperação dos papéis da Petrobras no começo do ano foi liderada por compras de estrangeiros, efeito de um clima menos pessimista sobre a crise da Europa e indicadores positivos sobre a recuperação da economia americana, além do otimismo gerado pelo anúncio da troca de comando na empresa.
Separado por segmento de atuação, o resultado da área de Abastecimento – responsável pela importação de combustíveis e refino de petróleo – foi a principal origem da queda da lucratividade. Para abastecer o mercado interno de combustíveis, a área importou 749 mil barris de petróleo e derivados por dia em 2011, 22% a mais do que os 615 mil barris diários de combustíveis do ano anterior.
Para Erick Scott, analista da SLW Corretora, o problema do aumento de importação de petróleo no ano passado foi o controle de preços dos combustíveis exercido pelo governo brasileiro, que tem como objetivo impedir um avanço da inflação.
- Como não pode repassar o aumento do petróleo no mercado internacional para o consumidor brasileiro, o custo total de compra e entrega desse combustível acaba sendo maior que a receita com as vendas. Por isso, a área de Abastecimento teve um prejuízo de R$ 9,9 bilhões. O controle de preços da gasolina prejudicou a empresa e o mercado subestimou o tamanho desse impacto – avaliou Scott.
Segundo Daniel Marques Pereira, analista da Ágora Corretora, a ação da companhia perdeu a tendência de alta vista no começo do ano. Pela análise gráfica, esse potencial foi deixado para trás quando o papel fechou abaixo de R$ 24,33 na última sexta-feira. Esse era o chamado “suporte” para o papel preferencial (PN, sem voto) da estatal, agora negociado a R$ 23,50.
- Em pouco tempo a ação da Petrobras subiu de R$ 20,80 para R$ 25,90, algo muito difícil de ser visto. Essa tendência de alta de curto prazo terminou. Existem agora outras ações com potencial melhor pela frente – explica o grafista da Ágora.
Fonte: Agência O Globo Por (Bruno Villas Bôas)
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