segunda-feira, abril 25, 2011

Fundador da HRT quer que empresa fique atrás somente da Petrobrás


O visitante desembarca do elevador, no 10.º andar, e encontra a recepcionista à sua espera - uma mulata bonita, com saltos altíssimos e postura de passista de espetáculo turístico. Sorridente, a moça o conduz a um aparelho no chão, para enluvar os sapatos com uma capinha semelhante às usadas em centros cirúrgicos.

A entrada no escritório da HRT Petroleum segue, invariavelmente, esse ritual. Mas o visitante não se sente deslocado. À exceção das recepcionistas, todos os funcionários calçam capinhas descartáveis. O motivo fica evidente na sala de espera, onde a faxineira se esmera em limpar dois pingos de café que macularam o alvo e espesso carpete.

Parece excentricidade. E é. Mas não para o geólogo Marcos da Rocha Mello, controlador e presidente da HRT. O ex-funcionário da Petrobrás, que participou dos estudos que identificaram a existência de jazidas de petróleo na região do pré-sal, vem se notabilizando como executivo extravagante. Mas a seus olhos tudo parece normal.

Até mesmo a cerimônia que programou para lançamento de ações (IPO, na sigla em inglês) da empresa, em 31 de outubro de 2010. Naquela segunda-feira, Mello chegou ao prédio da Bolsa de Valores de São Paulo acompanhado de passistas vestidas a caráter, mestre-sala e porta-bandeira, crianças e ritmistas. Diante da perplexidade geral, sambou e festejou na sala do pregão a abertura de capital que arrecadou R$ 3,8 bilhões.

Na sexta-feira da mesma semana, o executivo surpreendeu os funcionários com o depósito de um bônus de 26 salários para cada um. "Teve gente que quase enfartou", diverte-se.

A conta total, de R$ 35 milhões, pesou no resultado da companhia. O prejuízo líquido da HRT, que se prepara para iniciar operação de fato em julho, com produção na Bacia de Foz do Amazonas, saltou para R$ 143,37 milhões, 1.026% superior ao de 2009.

Mello não liga. Considera tudo um investimento. Agraciou também um grupo de 60 colaboradores com pequenas participações acionárias. Incluindo a recepcionista Priscila, que ele fez questão de chamar para comprovar sua declaração. "Quantas ações você recebeu, Priscila?", indaga. "Dez", responde ela, sorridente. Cada ação vale hoje em torno de R$ 1,8 mil.

A postura de passista não é mera coincidência. Priscila, que trabalha na HRT há seis anos, foi durante nove carnavais madrinha de bateria da Tradição. Lidera hoje um time de quatro recepcionistas e todas acumulam o emprego com a função de passista de escola de samba. Estão sendo recrutadas mais cinco, com as mesmas qualificações. "Eu supervisiono tudo. Tem de usar esses vestidos bonitos e não pode engordar. Vão logo para a massagem", diz o empresário.

A "comissão de frente" da HRT marca presença em todos os eventos da empresa e enche os olhos de prováveis investidores, especialmente os estrangeiros. Uma evidente técnica de marketing, que Mello nega: "Não sou marqueteiro! Sou brasileiro. Esse é meu povo. Isso é energia", declara ele, que nunca desfilou, mas se diz apaixonado pela cultura popular.

Comparação. "O segredo do sucesso é dividir", filosofa Mello. A bonificação com participação acionária, que ele diz fazer parte de sua estratégia de crescimento, lembra a do bilionário Eike Batista, que arregimentou seu time de executivos em concorrentes oferecendo, entre outros benefícios, participação acionária. Mello, porém, detesta ser comparado a Eike.

"Por favor, não me compare a ele", diz, com um pulo da cadeira de seu escritório, na Avenida Atlântica, com vista privilegiada da Praia de Copacabana.

A interlocutores, refere-se ao concorrente como aventureiro, que precisa se cercar de experts, enquanto ele entende do que fala. "Vamos ser a segunda maior empresa de petróleo do País", alardeia. Terá um caminho árduo para ultrapassar a OGX de Eike, que também conta com profissionais retirados dos quadros da Petrobrás.

Mello está empenhado em desdobrar as ações da empresa para torná-las mais acessíveis. Já solicitou autorização para a operação e aguarda resposta da Bolsa de Valores de São Paulo.

Como opera na Amazônia, com frota aérea própria - 2 aviões bimotor Brasília, 4 helicópteros Bell 212 e 5 aeronaves de pequeno porte -, o executivo planeja criar uma empresa de aviação regional, ligando cidades da Região Norte. "Lá não tem estrada. É tudo helitransportável. Seremos a maior frota regional do Norte."

Aquisição. Em fevereiro, a HRT anunciou a compra da canadense UNX Energy, por valor estimado em R$ 1,3 bilhão.

Com o negócio, tenta expandir suas áreas de exploração de petróleo e gás na costa oeste da África, mar da Namíbia, onde acredita que existe potencial para formações similares às do pré-sal do Brasil, com possibilidades de descobertas de campos gigantes. "A costa da África é geologicamente semelhante à do Brasil", diz, repetindo tese largamente usada na área de exploração e produção da Petrobrás.

No fim de março, a empresa passou a amargar expressivas baixas na cotação das ações em bolsa. Relatórios de analistas financeiros recomendavam a venda dos papéis, alegando incertezas em relação ao novo parceiro e ao desempenho da Bacia do Solimões, no Amazonas. Também falavam sobre a proximidade do período de lock-up (quando acionistas estão autorizados a vender ações, depois do IPO) e o aumento da exposição à Namíbia.

"Fiquei triste pelos acionistas, porque não tem motivo nenhum. A companhia está arrebentando. Mas, se tem alguém vendendo, é fato que tem alguém comprando. E esse está fazendo um bom negócio."

Aos 58 anos, com PhD em geologia molecular pela Universidade de Bridgeton, nos Estados Unidos, Mello criou a HRT (sigla de High Resolution Technology) primeiro como uma consultoria.

Quando deixou a Petrobrás, em 2000, associou-se a investidores estrangeiros, que entraram com o capital (cerca de R$ 2 milhões), para a criação da consultoria em geologia e geoquímica. Ele participou com o conhecimento que adquiriu no setor e ficou com metade do negócio.

Aquela empresa foi vendida em 2004. Com o capital, Mello criou a companhia atual. "Temos 250 empregados diretos. Se contar os indiretos, são mais de 1.300."

Apostas

R$ 35 mi
foi quanto a HRT distribuiu aos funcionários logo depois da abertura de capital, num bônus equivalente a 26 salários para cada um

R$ 1,3 bi
é o valor da compra da canadense UNX Energy, que permite à HRT expandir sua área de exploração de petróleo e gás para a costa oeste da África


Fonte: http://www.estadao.com.br/

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