sábado, abril 17, 2010

No chão, a 1600 Km/h!


Por David Cohen, da New Scientist

A corrida para construir um automóvel que supere a marca das 1000milhas por hora.


Preso a um assento personalizado, Andy Green prepara-se para a volta da sua vida. O deserto plano se estende por quilômetros à frente. O computador indica que todos os sistemas estão normais. Ele reduz a pressão nos freios e coloca o pé no acelerador. O motor a jato ruge, ganhando vida. Dentro de precisamente 42,5 segundos ele estará viajando a 1 000 milhas por hora (1 609 km/h). Num carro.

“É quase impossível diferenciar a experiência supersônica num carro e num avião”, diz Green. Ele foi piloto de caça da Força Aérea Real Britânica durante 20 anos, e é também o homem mais rápido sobre rodas. Em 1997, dirigindo um veículo chamado ThrustSSC, ele estabeleceu o recorde mundial de velocidade no solo em 1 227 km/h, tornando-se a primeira e única pessoa a quebrar a barreira do som num carro (1 224 km/h em condições normais). Agora, junto com a equipe de design do Bloodhound SSC, ele tenta fazer tudo de novo, e um pouco mais.

Desta vez, há concorrência. Está dada a largada para uma corrida contra duas outras equipes, uma da América do Norte e outra da Austrália, competindo para tirar o recorde dos britânicos. O primeiro passo será quebrar o recorde existente e superar 800 milhas por hora (1 287 km/h). Se a marca for alcançada com sucesso, a próxima etapa é tentar chegar a 1 000 milhas por hora (1609 km/h). “Isso é o que estamos projetando para o carro”, diz Ron Ayers, engenheiro aeronáutico, chefe do projeto Bloodhound.

Os três veículos concorrentes têm rodas, freios e um volante, mas a semelhança com carros convencionais para por aí. Chegar à velocidade do som e ir além impõe desafi os que um carro normal nunca vai superar, exigindo engenharia e projeto radicais. Por exemplo, as rodas de um carro de 1 000 milhas por hora terão de girar a mais de 10 000 rotações por minuto, muitas vezes mais rápido que num carro comum. Essa rotação implica uma aceleração no aro quase 50 000 vezes maior que a da gravidade (9,8 m/s em cada segundo, ou 1 g), gerando forças que facilmente destruiriam rodas convencionais. Por isso o carro vai precisar de rodas de titânio sólido ou, mais provável, de carbono reforçado com alumínio. Além disso, quando o veículo se aproxima da velocidade do som, produz uma onda de choque que transforma a terra à sua frente em fl uido. Então as rodas acabam cavando o solo em vez de girar sobre ele. Por fi m, após o veículo atingir 250 milhas por hora (402 km/h), o fl uxo de ar começa a se tornar um fator mais importante no controle do veículo que a tração no solo.

Nessa velocidade, as rodas começam a se comportar como lemes ou aerofólios, e dirigir o carro fi ca mais parecido com controlar uma lancha ou uma aeronave. “Nossa maior preocupação é fazer com que o veículo permaneça no solo”, diz Green. Criar um “carro” levando em conta todos esses fatores signifi ca explorar novos territórios em aerodinâmica e mecânica.

Tempo = 10 segundos
Green atinge 79 milhas por hora (127 km/h). Ele segura fi rme e, 5 segundos depois, solta a primeira de suas armas secretas: um afterburner (pós-combustor) que despeja combustível extra no motor a jato, alimentando-o até a máxima potência.

O Bloodhound SSC vai usar um motor de jato Eurofi ghter reformado para proporcionar o impulso inicial ao carro. Neste aspecto, ele se parece com o ThrustSSC, que era movido a dois motores a jato. Mas, de acordo com Ayers, essa confi guração não será sufi ciente para chegar a 1 000 milhas por hora.

A equipe North American Eagle, que soma as forças de Estados Unidos e Canadá, discorda. Eles apostam inteiramente nos jatos. Em vez de projetar um carro do zero, eles pegaram a fuselagem de um avião F-104 Starfi ghter abatido, acrescentaram o motor de um caça-bombardeiro supersônico F-4 Phantom comprado de um fornecedor de peças extras e colocaram rodas. “Sabemos que a aeronave pode fazer cerca de 1 500 milhas por hora (2 414 km/h). Então, se conseguirmos alcançar metade disso na terra já estaremos muito perto do recorde”, diz Ed Shadle, piloto e coproprietário do automóvel.




Fonte: http://info.abril.com.br/

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