Estima-se que o país esteja operando com apenas 25% da capacidade. Responsável por somente 2% da produção mundial, sozinha, a Líbia não seria capaz de afetar o mercado mundial. “O preço subiu por causa do medo. Ninguém sabe qual será o próximo país a ser afetado”, diz Tim Parker, vice-presidente do maior fundo de ações especializado em empresas de recursos naturais do mundo, o T. Rowe Price.
O principal temor é que a revolta chegue à Arábia Saudita, maior produtora de petróleo, dona da maior reserva e responsável pelo incremento da produção que está tapando o buraco deixado pela Líbia. Por enquanto, o país continua imune ao contágio que já alcançou seus vizinhos Bahrein, Kuwait e Omã. “A situação na Arábia Saudita é diferente da do Egito e da Líbia. O rei Abdullah é bastante popular, seu poder é tido como legítimo — não é fruto de golpe militar — e o país está crescendo”, afirma Thomas Lippman, especialista em Oriente Médio do Council on Foreign Relations.
Mesmo que o pior não se materialize, os analistas já trabalham com a possibilidade de o preço do barril começar uma tendência de alta — além da instabilidade, a recuperação da economia mundial pressiona a cotação para cima. No caso dos Estados Unidos, o maior importador do mundo, o aumento do preço para 120 dólares pode minar a frágil trajetória de recuperação da economia. Os americanos gastam com petróleo o correspondente a 4,3% do PIB, ou quase 700 bilhões de dólares por ano. “Se o preço do barril chegar a 120 dólares, o poder de compra dos americanos cai e o crescimento do PIB em 2011 pode diminuir 0,5 ponto percentual”, diz James Hamilton, professor de economia da Universidade da Califórnia e especialista em choques do petróleo.
O medo da inflação
No momento atual, uma elevação tímida, mas continuada, teria consequências para um mundo que já estava vendo a escalada da inflação, com a alta dos preços das commodities não ligadas ao setor de energia. Se o preço do petróleo se estabilizar acima dos 110 dólares, a pressão inflacionária pode fazer com que o Banco Central Europeu decida por subir a taxa de juro, o que seria um novo obstáculo à recuperação da região. Segundo cálculos do governo espanhol, a cada 14 dólares de aumento no preço do barril do petróleo, a economia nacional perde 8 bilhões de dólares. Preocupado, o premiê José Luis Zapatero já anunciou medidas preventivas, como a redução da velocidade máxima nas estradas de 120 para 110 quilômetros por hora. Nos principais países emergentes — Brasil incluído —, a sirene da inflação já havia soado e agora existe a possibilidade de o ruído ficar mais alto.
Por aqui, segundo cálculos da equipe econômica do banco HSBC, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subirá meio ponto percentual se o barril chegar a 120 dólares e a Petrobras repassar o aumento para os postos de gasolina. A China, segundo maior consumidor e importador de petróleo, controla e subsidia o mercado de combustíveis, mas se viu obrigada a elevar o preço da gasolina e do diesel no final de fevereiro. Os chineses já estão tendo de lidar com uma inflação próxima de 5%, 1 ponto percentual acima da meta. Na Índia, onde o índice de preço ao consumidor está em 10%, a maior parte do petróleo consumido é importada. Cada dólar de alta na cotação do barril aumenta em 700 milhões de dólares — 0,04% do PIB — o déficit na balança comercial indiana.
Independentemente do que venha a acontecer no Oriente Médio, a atual crise serviu para lembrar ao mundo as desvantagens de depender de uma região tão propensa a conflitos. A dependência não é uma opção e deve perdurar por várias décadas. Mas investimentos maciços para a localização de poços em outras partes do mundo fizeram com que a participação do Oriente Médio no total das reservas globais caísse nas últimas décadas. As Américas do Sul e Central foram as regiões que apresentaram maior crescimento do volume de reservas desde 1989 — a região respondia por 7% das reservas mundiais e hoje detém quase 15% do total, puxado principalmente pelas descobertas brasileiras no pré-sal.
De acordo com o relatório Energy Outlook 2030, da petroleira europeia BP, o Brasil é apontado como um dos grandes produtores de petróleo do futuro. “Com o barril um pouco mais caro, poderemos ver um fluxo maior de capital no setor de energia brasileiro nos próximos meses”, afirma André Loes, economista-chefe do HSBC. Se não descarrilar a economia mundial nem impulsionar uma espiral inflacionária aqui e no mundo, a atual crise pode deixar até uma herança benigna para o Brasil. Isso sem falar que o mundo tem a chance de ser um lugar melhor sem déspotas, como o egípcio Hosni Mubarak e sua turma.
Fonte: http://www.clickmacae.com.br/
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